Dando continuidade nas transcrições de textos escritos por historiadores e cronistas sobre a fundação da cidade de Salto, compartilho o texto do historiador Ettore Liberalesso (1920-2012).

O texto que será lido está na segunda edição livro Salto: história, vida e tradição, nas páginas 26, 27, 28, 29 e 30. Liberalesso foi um dos fundadores da ASLe, primeiro a ocupar a Cadeira de nº 1 e hoje é Patrono da Cadeira.

Uma boa leitura

***

Aproveitando-se de passagem do padre Manoel da Costa Cordeiro por Itu, na qualidade de visitador geral e representante do bispo do Rio de Janeiro, d. José de Barros Alarcão, o capitão Antônio Vieira Tavares dirigiu a este um ofício, requerendo licença e beneplácito para construir em seu sítio – o “Cachoeira” – uma igreja e um adro, sob a invocação de Nossa Senhora do Monte Serrat. As razões invocadas eram as mais justas: a grande distância – uma légua – da sede da vila e a travessia que tinha de fazer, de um largo rio – o Tietê – dificultavam a ele, à sua mulher e a seus agregados a assistência à missa aos domingos e dias santos. Acrescia a tudo isso, o fato de ele estar sofrendo, àquela época, de grave enfermidade.

A resposta não podia ser outra nem mais rápida: datada de 21 de outubro de 1695, o visitador geral assinava uma provisão concedendo a licença solicitada. Impunha, porém, ao impetrante, algumas condições: levantar no interior da capela um altar onde se pudesse dizer missa; a capela tinha de ser isolada da construção; tinha de ser mantida devidamente ornada pelo seu responsável; teria que ter uma cruz no meio adro; e, por último, tinha que submetê-la, antes de sua bênção, à aprovação do padre Felipe de Campos, vigário da Vila de Itu. […]

Digno de Nota é o fato de o capitão não pedir licença, simplesmente, para construir uma capela, mas para erigir em “seu sítio uma igreja com seu adro, com invocação de Nossa Senhora do Monte Serrat”. A determinação antecipada de um orago (padroeiro) para sua igreja ainda por construir, vem em reforço de nossa tese anterior, de que os habitantes da região já conheciam essa invocação à Virgem, que os espanhóis, notadamente os da Catalunha, levavam para onde iam.

[…] imediatamente depois de sua concessão, a gente de Antônio Vieira Tavares iniciou as obras, mas levou quase três anos para terminá-la, construída que era em grossas paredes de taipa, feitas por brações de escravos e gentios da terra, sob a administração direta de seu idealizador. Era tão bem feita e grande, que resistiu aos anos, e serviu ao povoado, à freguesia, à vila e à cidade de Salto, até 1928 – duzentos e trinta anos – quando foi demolida, não porque estivesse caindo (era muito bem conservada), mas porque se havia tornado incapaz de conter a população da cidade em contínuo crescimento.

[…] o Padre Felipe de Campos, comissionado pelo Padre Manoel da Costa Cordeiro, encontrou a igreja construída sob a invocação de Nossa Senhora do Monte Serrat do povoado de Salto de Itu naquele 31 de maio de 1698, quando veio fazer sua visita de inspeção e verificar se tudo estava de acordo com a provisão de outubro de 1695. E tanto estava, que marcou para sua bênção e inauguração, o dia 16 de junho de 1698. Ele mesmo voltaria ao “Cachoeira” na data estabelecida, e que seria considerada, para todo o sempre, a de fundação de Salto.

Nessa ocasião, na qualidade de Vigário de Itu, ele presidiu as solenidades e celebrou a primeira missa, assistida por numerosa comitiva vinda de Itu, por Antônio Vieira Tavares e sua mulher Maria Leite, por parentes e amigos do casal, escravos e índios remanescentes na região.

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