Uma sociedade negra
No âmago do Dia da Consciência Negra, comemorado hoje em todo o Brasil por força da lei federal 12.519/2011 e como feriado em mais de mil municípios, 104 deles no Estado de São Paulo, é inescapável discutir liberdade, pois este é, talvez, o direito mais importante do cidadão.
A liberdade não só no sentido da libertação da escravidão, posto que o Dia da Consciência Negra lembra o dia da morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, em 1695, que foi um dos principais ingredientes para que fosse assinada a Lei Áurea e se pusesse fim à escravidão legalmente, em 1888, 193 anos após a sua morte.
Mais que essa liberdade, é imprescindível discutir a liberdade do cidadão brasileiro. Esta ainda não está disposta a todos, como a liberdade dos negros não os beneficia por completo no sentido lato da palavra. Na medida em que não se tem educação, saúde e segurança no tamanho das necessidades coletivas, poucos são os que são livres.
O Brasil clama por essa liberdade. Hoje milhões de brasileiros rogam o verso forte da letra do hino da Proclamação da República do Brasil, escrita por Medeiros de Albuquerque: “Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós!”. Fundamentalmente, a liberdade de poder caminhar para o futuro e não só a liberdade de falar o que se quer.
Dentro da personificação da ideologia liberal, o lema “Liberdade, igualdade e fraternidade”, cunhado na Revolução Francesa em 1793, é a meta a ser perseguida. É a conquista de que precisamos. A sociedade contemporânea e o sistema político atual não nos permitem sonhar com isto e não nos dão, principalmente aos negros, as oportunidades.
Vivemos no Brasil ainda em uma sociedade quase toda negra, no sentido do horror da escravidão. Estamos escravizados pela violência, que nos coloca atrás de grades por uma opção de sobrevivência. Que nos faz reféns do poder econômico para conquistarmos saúde. Que nos nega a chance de poder distinguir entre o bem e o mal.
Se não nos fizermos irmãos uns dos outros, brancos, negros, amarelos, vermelhos, enfim todo o caldeirão miscigenado de que é composto o Brasil, jamais chegaremos a uma sociedade branca por inteiro e branca também para os negros, como resgate histórico.
Pela igualdade, senhores.
Como amante da poesia, ilustro abaixo com um poema que fiz há anos, este tema da liberdade na nossa sociedade atual. Este texto integrará o livro que lançarei em meados do próximo ano.
O SINAL
O sinal está vermelho.
Os carros param porque ele está vermelho.
Essa é a lei.
Se pode falar.
Não se pode andar.
Mas de que adianta só falar?
O sinal está vermelho.
Só que eu estou a pé.
As pessoas que eu conheço estão a pé.
Há uma multidão a pé.
E nós precisamos andar.