Titular da cadeira 38 da Academia Saltense de Letras, a aniversariante desta quarta (2) se divide entre a sua produção e a dos clientes da sua editora, a Mirarte

A escritora Rose Ferrari, proprietária da editora Mirarte

Perguntada sobre a sua relação com a literatura, a escritora Rose Ferrari, titular da cadeira 38 da Academia Saltense de Letras, patrono Mário Quintana, que aniversaria nesta quarta-feira (2), define rapidamente: “Trabalho para que as pessoas escrevam, para que contem suas histórias e para que deixem registradas suas experiências neste mundo tão diverso”.

É que Rose Ferrari também é empresária do ramo editorial e tem uma editora, a Mirarte, desde 2012, que já foi responsável pela produção de dezenas de títulos desde lá, entre infantis, romances, biografias, antologias de poesias, crônicas e contos, além de livros-reportagem e de estudos acadêmicos, e tem de se dividir entre a sua produção literária e a dos clientes.

A sua produção neste momento é um livro de ficção que deve se chamar Gabiroba. A obra vai tratar do estigma causado nos portadores de doenças mentais. Mas ela já adianta que não tem tido muito tempo livre para se dedicar à escrita. Portanto, não tem prazo para o lançamento. Quem a conhece, sabe do seu padrão de exigência, o que justifica não fixar uma data.

“Sempre me preparei para tudo o que me dispus a fazer”, explica a escritora. Prova disso é que, graduada em jornalismo pela Universidade Metodista de Piracicaba, fez mais duas pós pela Metodista de São Paulo, em português: língua e literatura e outra, status de MBA, de gestão de mídias digitais, com base em estudos geracionais do sociólogo húngaro Karl Mannheim.

Da primeira pós resultou um estudo sobre Análise do Discurso e o artigo científico “Obras literárias infantis com temática homoafetiva nas escolas”. Da segunda, cujo intuito foi antecipar tendências sobre o comportamento de leitores nascidos entre os anos 1946 e 1964, culminou com o artigo científico “Hábitos de leitura da geração baby boomer no ambiente virtual”.

Fome por conhecimento

Toda essa formação consolidou uma trajetória trilhada pela escritora desde os seus primeiros anos. “Sou fascinada pelo conhecimento. Aprender sempre é que o que me realiza. É para isto que estamos aqui: para nos tornarmos melhores”, afirma. A essa missão ela acrescentou outra agora: ajudar o maior número possível de pessoas a lançarem seus livros.

O que faz Rose Ferrari se mover no mundo dessa forma incisiva e que já nasceu com ela é uma busca incessante por realizar, compreender e aprender. Só para se ter uma ideia, ela começou a falar com apenas 11 meses e o que fez com essa habilidade encantou a todos os seus vizinhos: ela repetia para eles as historinhas que ouvia da mãe. “João e Maria era minha favorita”, revela.

A escritora foi uma criança curiosa. Disso resultaram muitas chineladas em virtude das travessuras. Uma delas, que a diverte até hoje, foi rasgar um sofá novinho em folha com gillette para ver como era por dentro. Outra: desmontar o choro da boneca para saber o funcionamento. Mais uma: sumir com a tia Conce, de oito anos, para conhecer a fonte luminosa da Praça XV.

Saltense de nascimento, mais uma que veio ao mundo na antiga maternidade, onde hoje é o Atende fácil, Rose Ferrari se orgulha de ter tido uma infância deliciosa, como define, na Salto dos anos 60/70, cidadezinha tão pacata que tinha apenas um policial e que não passava de 23 mil habitantes. Foi a professora Maria Bernadete Ferrari que abriu a ela as portas do saber.

Aos 6 anos de idade, fingindo que já sabia ler

Adaptações sempre

Primeira filha, estudou no Externato Sagrada Família, o Coleginho, tida como a melhor escola particular da época. Mas, com a chegada das irmãs (são três), teve de se adaptar em escolas públicas. Teve também de se mudar para Itu e passou pelo Regente Feijó. Mais tarde voltou para Salto e estudou no Paula Santos e no Leonor Fernandes da Silva, concluindo o ensino médio.

Adaptar-se sempre foi uma jornada sem escolha. As condições financeiras mais difíceis da família com mais filhos, forçou a escritora a trabalhar para pagar a faculdade e o transporte. “Sequer sonhávamos com políticas públicas que permitiram a pobres chegar ao ensino superior, como o Exame Nacional do Ensino Médio, a lei de cotas sociais e o financiamento estudantil”.

Mas uma adaptação, não conseguiu. Ela adora cantar e gostaria muito de ter aprendido a tocar violão para se acompanhar nas cantorias. Tentou e não conseguiu. Nem mesmo a força motriz da sua vida, a indignação, ajudou, “É meu sonho frustrado”. Mesmo assim, aos 59 nos, empresta de Rita Lee: “Enquanto estou viva e cheia de graça, talvez ainda faça um monte de gente feliz”.

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Sidneia Aparecida Ferrari
2 anos atrás

Parabéns! Realmente é uma profissional sensacional.