ao rever o passado com olhos do presente e do futuro, são Paulo, propõe que … renunciando à vossa existência passada, despojai-vos do homem velho, que se corrompe sob o efeito das paixões enganadoras, e renovai o vosso espírito e a vossa mentalidade. Revesti o homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade. (Efésios 4,17-24. pag, 1501).

O contato com este trecho da Bíblia e a decisão de mexer com um rancho, levou-me a refletir sobre o processo de mudança/ transformações que ocorrem em nossas vidas, de maneira consciente ou não, tendo em vista o contexto presente.

Um rancho construído há tempos para guarda das ferramentas e utensílios usados na manutenção da chácara, necessitava de reparos. As madeiras que lhe serviam de paredes se encontravam gastas pelo tempo. Traças e formigas faziam delas suas moradas, construindo verdadeiras alamedas em seu interior, enfraquecendo-lhes a estrutura.

A decisão foi de reconstruí-lo. Não apenas um reparo, pois ele veio abaixo, ficando apenas alguns vestígios de sua existência, no local. Tudo o mais foi tirado, deixando apenas poucos tijolos a serem usados no novo projeto.

Ao ver o espaço vazio do que antes era ocupado pelo velho, levou-me a relacionar ao trecho da Bíblia (epigrafe acima) à necessidade de deixar o velho para entrada do novo. Tais questões levaram-me a pensar sobre o processo de construção, passando pela desconstrução, reconstrução para que uma nova surja mais imponente e apropriada a novas demandas. Partir do velho para que o novo ocorra, sendo que neste haja marcas do anterior por atender o mesmo fim, sabendo que este novo tornar-se-á velho com o passar do tempo. É o processo de transformação, adaptação ao tempo presente.

Assim somos nós frente às novas crenças, idéias, conceitos, preconceitos muitas vezes assumidos sem tomar ciência do fato. Mas ao contrário, percebendo o feito, refletir sobre o ocorrido e na caminhada adquirir o novo com olhos do presente, tendo em vista o futuro.

Como afirma Mario Sergio Cortella: “não nascemos prontos e vamos nos desgastando, nascemos não prontos e vamos nos constituindo”. Somos hoje o que éramos aos 5 anos, aos 20 anos, aos 30 anos. Somos não o eu, mas os “eus”, trazidos pelas marcas e vestígios do passado que foram se sedimentando em nossa vida presente. Sou todos estes “eus” que anteriormente fui, me reconstruindo, me transformando, me adaptando, tendo em vista ao contexto presente.

Cortella,Mario Sergio, Não nascemos prontos – provocações filosóficas, ed. Vozes, 2013

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