Talvez
Saudade é uma coisa complicada, que eu nunca vou entender. Às vezes, dói feito a despedida de alguém que não vamos ver nunca mais. Noutras faz bem, como quando estamos prestes a reencontrar quem tanto esperamos.
Em outras ainda é doce, como lembrar de uma comida de que gostávamos muito na infância. E também é cheia de altos e baixos, como quando repassamos as etapas da nossa vida até nos construirmos como somos.
Temos saudade de pessoas que foram imprescindíveis na nossa trajetória, como pai, mãe, avós, mulher, marido. E de pessoas que apareceram uma única vez na nossa vida, mas que nos elevaram de patamar, como um professor.
Saudade de bichos de estimação, como cachorro ou gato, uma calopsita ou até um peixinho de aquário. E de bichos que nunca tivemos nem nunca foram domésticos, mas que passaram por nós, como um elefante na África.
Saudade de épocas malucas, como as encrencas de colégio, festas da adolescência, nossas viagens. E de coisas que víamos como perfeitas, como aquele amigo ou amiga que nos entendiam tanto que queríamos fossem eternos.
Eu tenho saudade de coisas que ninguém tem, como quando meu filho assoava o nariz no banho com tanta força que parecia que ia arrancar ou da minha filha mostrando só olhos debaixo de cobertor com o ar ligado.
Tenho saudade ainda e até do que não vivi, como as profissões que queria ter: já fui médico, astronauta, caubói, cantor, polícia, piloto de avião, bombeiro, atleta, motorista de caminhão, psicólogo, padeiro, pastor.
A saudade me absorve quando tomo mais que devia uísque, vinho ou cerveja, quando ouço músicas que me emocionam, quando está escuro demais, quando tudo é silêncio, mas toca mesmo quando estou só como agora.
Mesmo assim, não me sinto triste nem melancólico como possa parecer. Na verdade, penso que isso tudo mostra que vivi e fui feliz, além de fazer felizes outros. E talvez tenha deixado uma história na saudade de alguém.
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