Rose Ferrari atribui ao trabalho como jornalista a base para sua literatura
Hoje no comando da Mirarte Editora, a titular da Cadeira 38 da Academia Saltense de Letras e aniversariante desta quinta (2) já trabalhou 22 anos na revista Campo & Cidade e igual período na imprensa de Salto, Itu, Indaiatuba e Sorocaba
“Sou uma contadora de histórias. Desde os primeiros anos de vida, gostava de ouvir e de repetir historinhas que minha mãe me contava e os discos de vinil que acompanhavam os livros e que meu pai colocava em uma vitrolinha: “A Bela Adormecida”, “Os Três Porquinhos”, “Bambi”, “Mogli” e várias outras, resume a escritora, jornalista e empresária do ramo editorial Rose Ferrari, Cadeira 38 da Academia Saltense de Letras, patrono Mário Quintana, que aniversaria nesta quinta-feira (2).
O gosto pelas histórias se consolidou depois na vida profissional como jornalista. “Aí eu me tornei uma contadora de histórias reais. E quantas histórias contei. Algumas bastante importantes e transformadoras”, se recorda. Mas hoje é como proprietária da Mirarte Editora que ela ganha a vida e segue contando histórias. “Hoje trabalho para que as pessoas escrevam, para que contem suas histórias e registrem suas experiências”.
Até chegar à empresária, a transição foi gradativa e teve como base a experiência como jornalista. “Nunca gostei de superficialidade. Então afastei-me do rádio e da televisão e me concentrei na imprensa escrita. Primeiro nos jornais semanais de Salto, Itu e Indaiatuba e depois nos jornais diários de Sorocaba. Por fim, na revista, onde consolidei minha escrita”.
Melhor escola
Rose Ferrari considera que os 22 anos de revista Campo & Cidade foram a sua melhor escola. “Num desafio permanente por descobrir, resgatar de fontes primárias e contar histórias com as melhores letras, tratei de mais de uma centena de assuntos importantes para a cultura regional. Dei lugar, no panteão da história, a anônimos de antes, como Nhá Chica Messias, a mulher negra e pobre que pegou em armas na Revolução Constitucionalista de 1932”.
Mas não foi só na revista Campo & Cidade, onde atuou como repórter, pesquisadora e editora, que a escritora apurou a sua escrita e o seu cuidado com a história. Os embates da imprensa também a moldaram. Um dos mais marcantes foi em 1990, quando ela invadiu um hospital psiquiátrico em Itu para denunciar, em nível nacional, os maus-tratos aplicados a 220 pacientes, a maioria crianças abandonadas nas mãos de empresários.
Outro episódio que ela se recorda com satisfação pelo trabalho realizado foi quando, com uma reportagem publicada, ela derrubou um delegado corrupto e assediador de mulheres que passou por Salto. Isso sem contar as inúmeras vezes em que “políticos” pediram a sua demissão aos seus empregadores por discordar das reportagens. “Nunca me dei bem com políticos. Percebi que temos objetivos opostos no mundo”.
“Como, no modelo de imprensa que tivemos no Brasil, o caminho natural de um bom repórter era se tornar editor, segui o fluxo e passei a coordenar equipes e a repassar aos jovens jornalistas os conhecimentos que recebi”.
Essa jornada só não continuou por questões econômicas, já que a imprensa impõe baixos salários a um “exército” de profissionais dispostos a conviver com a precarização das redações. “Afinal, quem está interessado em pagar para ler bons jornais ou revistas quando se sabe de tudo, de graça, pela internet?”, questiona.
Empreendedorismo
Por essa razão, a escritora se aventurou no mundo do empreendedorismo montando a editora em 2012. Com ela, já foi responsável pela produção de dezenas de títulos desde lá, entre infantis, romances, biografias, antologias de poesias, crônicas e contos, além de livros-reportagem e de estudos acadêmicos.
“Tenho me ocupado hoje em descobrir soluções tecnológicas, técnicas de impressão melhores, tendências em artes gráficas e em gêneros literários mais apreciados pelos novos leitores, formas de aproximar os escritores dos seus leitores, como fiz recentemente na Feira Literária e Cultural de Itu, a Flic. Enfim, tenho buscado me aperfeiçoar como empresária”.
Todo esse trabalho como empreendedora a tem afastado da sua produção própria. Até um livro de ficção que deve se chamar Gabiroba e que estava sendo escrito foi pausado. Mas a obra não morreu. Ela vai tratar do estigma causado nos portadores de doenças mentais. Ainda sem prazo para o lançamento. Quem a conhece, sabe do seu padrão de exigência, o que justifica não ter data.
A escritora
“Mas, a cada vez que sou motivada a escrever, a contadora de histórias desperta, como aconteceu recentemente na produção do conto ‘Verdades inventadas’, que fiz para a coletânea ‘Verbo Revelado’, lançado pela Academia Saltense de Letras. Aí volto a sonhar com os livros de minha autoria. Vai acontecer.”
Saltense de nascimento, a escritora veio ao mundo na antiga maternidade, onde hoje é o Atende Fácil. É primeira filha de quatro irmãs. Estudou no Externato Sagrada Família, o Coleginho. Depois Regente Feijó, em Itu. Mais tarde voltou para Salto e estudou no Paula Santos e no Leonor Fernandes da Silva. Fez jornalismo pela Universidade Metodista de Piracicaba e duas pós pela Metodista de São Paulo.