Registrar é existir
Por que escrever literatura? Penso no medo, o medo do tempo e da não-existência. Lembro-me de um texto sobre uma civilização antiga, em que cada indivíduo escrevia o próprio nome nas paredes para garantir sua existência, até então não assegurada. Escrever é isso, assegurar a existência da sua comunidade, da sua cultura, das ideias que circulam ao seu redor.
Quantas civilizações podem ter se perdido sem deixar como legado suas ideias em um papiro, um pergaminho, uma folha de papel. Civilizações, cidades, bairros, até mesmo uma rua… Tudo pode ter história: o macro ou o micro, esperando garantir sua existência pelas poucas canetadas do escritor…
Escrever é dar imortalidade a esses acontecimentos, para um dia os brasileiros do século XXX, máquinas do futuro ou aliens poderem saber que aquela civilização ou aquela simples rua teve uma história, cheia de pessoas e ideias, vivas além do tempo e da existência.
REGISTRAR É EXISTIR
Há necessidade de registrar a história para assegurar a existência de uma civilização.
O que dizer então da necessidade de registrar um indivíduo para assegurar a sua existência?
Pois bem, em nosso enorme país, pasmem, muitos brasileiros ainda não são registrados, ainda “não existem legalmente”.
Morei no Vale do Jequitinhonha, conhecido como Vale da Morte e lá providenciei o registro civil de mais de uma centena de indivíduos. Ainda hoje, naquelas paradas, pessoas nascem e morrem sem jamais terem existido.
Precisamos registrar:
Nossa literatura
Nossa cultura
Nosso povo
Christina, passei pela mesma experiência , quando tive oportunidade de atuar no Curso de Alfabetização de Adultos. Brasileiros das diversas regiões do país, vinham a São Paulo, a procura de melhoria de vida, totalmente analfabetos. Mal conseguiam segurar o lapis nas mãos. Não familiarizados com algo tão delicado. Segurar cabos de enxada ,ou outro material, era mais fácil. Uma das primeiras providências, providenciar sua documentação. É inacreditável e triste que grande parte da nossa população, em pleno século XXI, seja analfabeta.
O seu texto, Jean, é uma inspiração para todos os que amam as palavras. Eu achava que escrevia para encontrar respostas, mas agora entendi que escrevo para imortalizar a minha busca.
Escrever, escrever, escrever …
Ah, que sede, fome e comichão o escritor tem por escrever, escrever e escrever.
Sim, são registros de nosso tempo, de nós mesmos, de nossas vidas, de nossa passagem nesta terra.
São legados, heranças, registros históricos que deixamos, por amor, a nossos descendentes, às outras gerações e aos povos que virão depois de nós, além do amor por nós mesmos.
Nossas palavras de hoje são aquelas figuras rupestres encontradas nas cavernas de Altamira.
Que forte!
Obrigada por proporcionar tamanha reflexão com seu pequeno e cirúrgico texto.