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Informações gerais

Cadeira: 28
Posição: 2
Ocupantes anteriores: José Alcione Pereira
Data de nascimento: 08/04/1961
Naturalidade: Salto/SP
Patrono: Eça de Queiróz
Data de posse: 04/12/2021

Biografia

 

Bibliografia

 

Discurso de posse

Inicio cumprimentando o João Carlos Milioni e através dele a todos os nobres confrades e confreiras membros da Academia Saltense de Letras. Registro minha profunda gratidão à Rose Ferrari que me honrou com o convite para fazer parte dessa academia. Ela me proporcionou uma das grandes emoções da minha vida. Obrigada Rose, serei eternamente grata por isso. Agradeço a generosidade dos acadêmicos que votaram em apoio a minha candidatura aceitando-me como companheira nesta casa.Um abraço especial a todos os meus familiares, presentes e ausentes, representados aqui pelas minhas queridas irmãs, Helena e Claudia, meus cunhados João Luiz  e Vagner e meus sobrinhos Beatriz e Caio. É uma honra fazer parte desta  família.

Meus amigos queridos, tenho muita sorte em tê-los comigo nesta caminhada.

 

A partir de agora passo a ocupar a cadeira 28 que tem como patrono o grande Eça de Queiros. Nasceu em Portugal,  em novembro de 1845 e faleceu em Paris, em 1900. Seu pai era brasileiro e sua mãe portuguesa. Como se sabe, Eça de Queirós foi um dos responsáveis pelo início do realismo em Portugal. “O Crime do Padre Amaro” é uma obra representativa desse movimento literário. Apresenta uma visão mais crítica da sociedade, diferente do romantismo que precedeu o movimento. Seus livros provocaram escândalo na época, marcados pela crítica social, temática de adultério, antirromantismo e objetividade. Além de romancista, era advogado, jornalista e diplomata.

 

Como bem definiu o poeta português Guerra Junqueiro:

"Eça, quando não vê a olho nu, põe a luneta; quando não vê com a luneta, pega o microscópio; e se a noite é tenebrosa, transforma-se em tigre; e, se o olhar felino não é ainda bastante perspicaz, transformasse em vidente, em iluminado."

 

E assim, com detalhismo que lhe é peculiar, ele pergunta que mérito há em amar os que nos amam? Eu, que aprendi tanto a amar, não posso deixar de concordar com ele que "É o coração que faz o caráter".

 

Me antecedeu nesta cadeira o jornalista José Alcione Pereira, nome significativo na história do jornalismo dessa cidade, do qual me sinto honrada em suceder.

José Alcione, ou Cabecinha, como era conhecido na cidade, nasceu em Caicó no Rio Grande do Norte em 19 de março de 1928. Foi casado com a saltense Zuleica Morato com quem teve três filhos. Depois de viúvo casou-se com Marlene Pizzordi Pereira.

Chegou em Salto em 1951, trazido por Archimedes Lamoglia para comandar e modernizar o jornal O Liberal, ele foi responsável por introduzir a bancada de imprensa na Câmara Municipal.

Em 1954 mudou- se de Salto para cobrir a campanha do Presidente Juscelino Kubitschek. Ele foi redator do repórter Esso.

O Sr José Alcione trabalhou na Editora Abril por 28 anos, onde ocupou o cargo de diretor comercial da divisão de educação da editora, sendo responsável pela criação do fascículo Abril Vestibulares e a revista Nova Escola.

 

Se tentasse me definir com uma única palavra certamente usaria a expressão: privilegiada.

Tenho muitos privilégios na vida, o maior deles é ter nascido em uma família que sempre valorizou as artes e a cultura.

Não conheci meu avô materno, Joaquim de Toledo Camargo, conhecido como Professor Quincas, mas por suas memórias escritas me aproximei dele. Além de professor, Vô Quincas era diretor de escola, artista plástico, um grande poeta, orquidófilo, um incrível equilibrista das artes.

Sou neta de Biase Ferraro, conhecido em Salto como Braz, Nascido na Itália veio para Salto em 1902, onde casou-se com Maria Felicia Pepe Ferraro e tiveram 8 filhos.Minha avó era uma mulher de personalidade marcante. Irmã do Monsenhor Antonio Pepe, pároco de Salto, que fundou, com um grupo de saltenses, a Sociedade Saltense de Socorro Mútuo Internacional, com o objetivo de proporcionar auxílio mútuo entre os filiados.

Meu avô era fotógrafo, alfaiate e foi um dos diretores do grêmio teatral da comunidade italiana em Salto chamado de Filodramática Italiana.

Tio Pascoal, irmão do meu pai, teve uma participação importante no meu amor pela literatura, eu dizia que ele era meu mentor intelectual e muitos livros que li, foi por sua indicação e influência.

Eu sei que todos dizem que sua mãe é a melhor do mundo, eu também digo - quem a conheceu, certamente concorda. “a Bia” é o exemplo da mulher moderna, que mesmo trabalhando muito criou seus 4 filhos com uma dose extra de amor e dedicação. A ela devo, além da vida, o meu nome em homenagem à Rachel de Queiroz, a minha paixão pela música e pela literatura.

 

E o meu coração bate muito forte nesse canto da cidade onde eu me criei, passei a minha infância na Rua Monsenhor Couto e aos 11 anos me mudei para a Rua José Weissohn, meus avós e minhas tias moravam aqui, em frente a esse prédio.

Em minha família temos a música como parte da nossa formação. Aqui, nesse prédio, eram realizados os festivais de música da cidade e os ensaios do grupo que meu irmão Rubens fazia parte, eram feitos na minha casa.

 

Esse ano completei 60 anos, essa idade carrega uma simbologia importante, é a ideia da maturidade, da velhice como significado de tempos vividos, é o momento de renovação e de ressignificação. esse período me trouxe muitas reflexões.

Nas minhas memórias muita coisa se perdeu, mas do que ficou o mais importante é o amor, a doçura e o privilégio de estar na terra no mesmo tempo de tantas pessoas importantes e parafraseando minha irmã Claudia, conservo comigo o calor de todas as voltas em torno do sol, as trilhas que me acompanharam, os livros que li, as histórias que vivi.

Hoje carrego comigo todas as minhas idades, não mais na memória, mas no resumo de tudo que ficou, no resumo de tudo que hoje sou.

 

Nas palavras do Gonzaguinha em Caminhos do Coração encontro ainda mais poesia para definir esse momento:

Há muito tempo que eu saí de casa. Há muito tempo que eu caí na estrada…

…E aprendi que se depende sempre, de tanta, muita, diferente gente. Toda pessoa sempre é a MARCA das lições diárias de outras tantas pessoas.

E é tão bonito quando a gente entende que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá.

E é tão bonito quando a gente sente que nunca está sozinho por mais que pense estar

E é tão bonito quando a gente pisa firme nessas linhas que estão nas palmas de nossa mão

E é tão bonito quando a gente vai à vida nos caminhos onde bate bem mais forte o coração.

 

Muitas pessoas sonham em encontrar um grande amor, eu tive essa sorte. Me casei com Raul Acciari, vivemos lindas aventuras na selva amazônica, na cidade de Porto Velho. Foi assim que aprendi que amor pode ser ampliado, o nascimento da minha filha Paula me trouxe esse entendimento. Sem ela minha história não faria sentido, ela é a filha que todos sonhariam em ter. A Paula é a minha companheira e parceira. Ser sua mãe é mais um dos grandes privilégios que a vida me presenteou.

Sinto-me realizada com o que construí.

A gente é tanta gente onde quer que a gente vá… e a minha vida profissional me levou para orgãos de imprensa na região, promovi apresentações com grandes artistas, pude conviver com vários deles. Guardo comigo um eterno carinho de admiradora e amiga da Claudinha Telles, Paulinho Tapajós e Marcello Lessa que me apresentaram canções maravilhosas.

Me tornei professora universitária e o desafio de despertar nos jovens o desejo de aprender é o que me motiva a continuar estudando e me aperfeiçoando. Essa é a minha arte.

 

E é tão bonito quando a gente pisa firme nessas linhas que estão nas palmas de nossas mãos…

 

Deixei para falar do meu pai por último, 2021 é o ano do seu centenário, sinto estar homenageando e ocupando a cadeira que poderia pertencer a ele, João Sebastião Ferraro, um grande incentivador da cultura e esporte saltense, um homem arrojado, à frente do seu tempo, amigo de todos e apaixonado pela cidade. Era um bom contador de histórias com seu humor peculiar e coração gigante.

Meu pai foi presidente do Clube de Regatas Estudantes Saltenses, o “Fidalgo da Barra”, nas épocas mais quentes do ano, o Clube chegava a atrair até 5000 pessoas nas margens do Rio Tietê e Jundiaí, onde foi instalado um trampolim e eram disputadas partidas de remo e natação masculina e feminina. Ele foi também o técnico da seleção feminina de vôlei, quando era um tabu mulheres praticarem esportes.

Quando foi assessor de Cultura, Esportes e Turismo promoveu grandes shows na antiga Concha Acústica, desfiles de bandas marciais, festival de corais, shows de grandes artistas que recebemos em casa. A primeira exposição de orquídeas também foi realizada nesta praça.

Por tantas obras meu pai deve ser imortalizado e será sempre homenageado por mim.

Pai, essa cadeira também é sua.

 

Obrigada.