Fabiano Ormaneze entende que esse tipo de obra contribui para a propagação científica e cultural e para mostrar os movimentos sociais

O professor, jornalista e escritor Fabiano Ormaneze, no Café com palavras

O professor, jornalista e escritor Fabiano Ormaneze, que também é doutor em linguística e mestre em divulgação científica e cultural, ambos pela Unicamp, defendeu a produção de biografias, autorizadas ou não, ao falar aos integrantes da Academia Saltense de Letras, no sábado (1º de abril), no espaço “Café com Palavras”, último evento da 6ª edição da Semana Cultural Ettore Liberalesso.

Para ele, as biografias têm um papel importantíssimo na produção cultural e literária que não podem ser faltar nesse cenário, a despeito das críticas que biografados fazem quando veem suas histórias divulgadas mesmo sem as suas autorizações, sobretudo quando eles são pessoas de muito destaque na sociedade e com ações que impactam na população onde vivem.

“Sempre acreditei que a biografia tem esse papel de divulgação científica, de divulgação cultural, de mostrar a importância de movimentos sociais e da atuação de uma pessoa por uma causa. A biografia é um excelente gênero para isso e pode ser perfeitamente usada, inclusive para o público infantil”, avaliou, ele que é autor da biografia voltada ao público infantil “Milton, Milton Santos”.

 

Conceitos

Fabiano Ormaneze defende biografias para o público infantil, como a sua “Milton”

Dentro dos conceitos que defendeu, ele buscou retratar no livro a vida e as realizações de um dos maiores geógrafos brasileiros, reconhecido internacionalmente, e que era negro, justamente pela importância da globalização, que, com a obra, impõe reflexões sobre os problemas sociais e propõe uma nova interpretação do mundo atual, principalmente porque Milton lutou por isso nos seus 75 anos de vida.

Ormaneze aproveitou a exposição que fez para discutir com os acadêmicos o que é possível dizer sobre alguém em uma biografia. Falou sobre o cruzamento necessário entre a verdade e a ficção na produção e sobre as expectativas e sentidos que surgem a partir dessas obras, o que deixou os acadêmicos satisfeitos com o esclarecimento de dúvidas e de pontos nevrálgicos da questão.

“Tivemos o privilégio de ouvir falar e de discutir várias questões ligadas à autoria e à publicação de biografias e autobiografias com um mestre como Fabiano Ormaneze, que deu um raro show de erudição, sensibilidade e muita simplicidade na abordagem de tema tão complexo”, disse a presidente da Academia Saltense de Letras, Anita Liberalesso Neri, Cadeira 11, patrono Odmar do Amaral Gurgel.

 

Outras obras

Pesquisador da área e professor da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, onde ministra Jornalismo Literário, na qual se discute biografias, tema que também abordou em seu mestrado, Ormaneze ficou à vontade sobre o assunto, porque, além de gostar, é autor de outros trabalhos biográficos, como o livro “Vidas Partidas”, no qual conta histórias de mães que perderam filhos.

De acordo com o professor, a gênero biografia contribui para fomentar a cultura do país e para registrar a sua história. Até por conta da sua aceitação pelo público e pelas suas características. A única ressalva que ele faz é que a discussão deve se centrar na qualidade das apurações realizadas pelos biógrafos e afirma que ela não seria resolvida pela censura antes das publicações.

O convidado da Academia Saltense de Letras desenvolveu exatamente esse trabalho na produção de “O Discurso Biográfico na Televisão”, que escreveu em parceria com Duílio Fabbri Júnior para resgatar a memória e as condições de produção em um programa elaborado para falar de Santos Dumont, o pai da aviação por meio da EPTV, emissora de Campinas afiliada da Rede Globo.

 

Perspectivas

Fabiano Ormaneze: erudição, sensibilidade e simplicidade

Ormaneze destacou também que a produção de biografias está enraizada na formação de novos profissionais de jornalismo, como observou na Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas. Segundo ele, cerca de 30% dos Trabalhos de Conclusão de Curso dos formandos da universidade estão entre os que optam por produzir livro-reportagem, que são nada mais nada menos que biografias.

Além da sua formação, Fabiano Ormaneze é especialista em Jornalismo Literário pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário e, como professor na PUC-Campinas, é o responsável pelo curso de extensão universitária Jornalismo Literário: Perfis, Biografias e Narrativas de Viagem, além de autor de “Do Jornalismo Literário ao Científico, Biografia, Discurso e Representação”.

Sua contribuição fechou a programação da Semana Cultural Ettore Liberalesso, que começou com uma mesa redonda sobre jornalismo no interior, continuou com a discussão sobre os embates do direito com a literatura e uma missa pelos acadêmicos mortos. “Que felicidade poder comemorar o sucesso da realização da nossa semana. Cumprimento e agradeço a todos que ajudaram na organização”, disse Anita.

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