NINA, A ESCRITORA
Por Andrade Jorge

Naquele dia Ticão estava com a macaca, como dizem por aí, entrou como um furacão na sala, e como de costume, foi logo mexendo com sua irmã:
─ Diga aí Nina, por que você escreve tanto? que literatura é essa?
Nina estava tão absorta escrevendo, que levou um susto com o irmão, aquela interrupção abrupta serviu para traze-la à realidade:
─ Ai Ticão, você me mata de susto! Já que perguntou sobre a literatura, ela é um verdadeiro alimento para mim, tenho essa necessidade de expressar meus pensamentos numa folha de papel.
Entretanto, Ticão querendo provocar uma reação na irmã, aliás ele adorava fazer isso, emendou
─ E você ganha o que? Vende livro? Ganha dinheiro?
Nina não estava muito a fim de conversa, mesmo porque estava no meio de um texto no qual abordava exatamente a dificuldade dos escritores, pouco conhecido, viverem da literatura, mas respondeu
─ Ticão, na verdade não escrevo para ganhar dinheiro, como disse, sinto essa necessidade em colocar no papel meus pensamentos, e divulgo meus escritos nos saraus que participo pela cidade, e olha que são muitos, você deveria vir comigo pra ver como é, tenho certeza que vai gostar.
Contudo, Nina sentiu a necessidade de colocar seu irmão a par dos problemas para publicação de um livro
─ Ticão, a publicação de um livro não é tão fácil assim, existem dois tipos de editoras, as comerciais, como são chamadas as grandes, como a Companhia das Letras, a Papirus, a Rocco etc. que contratam o autor para publicar sua obra com exclusividade, pagam os direitos autorais, e a porcentagem de capa sobre livros vendidos. Normalmente fazem a distribuição em livrarias conveniadas. O outro tipo são as editoras que publicam para os autores iniciantes, porém o custo de toda edição fica por conta do autor, que contrata a quantidade de exemplares que quiser, ou puder pagar. Uma vez o livro pronto e entregue, fica por conta do autor seu lançamento, distribuição e venda, e essa tarefa não é nada fácil. Visando somente o dinheiro do iniciante, muitas editoras publicam sem qualquer critério, o que vem vai pro prelo, inclusive, no contrato fazem constar, que a revisão ortográfica é por conta do autor, fácil imaginar as turbulências gramaticais em certos livros.
Ticão até que ouviu pacientemente, mas não seria o Ticão se não fizesse a pergunta a seguir
─ Maninha, quem sabe algum dia vou com você nesse tal sarau, mas diga-me, nesses movimentos aí vão muitas gatinhas?
Nina nem respondeu, e continuou escrever seu texto sobre as dificuldades dos novos escritores.

FIM

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