Não há processo de criatividade sem uma faísca de sonho, afirma Núbia Istela
Escritora titular da Cadeira 37 da Academia Saltense de Letras falou sobre o seu processo criativo como convidada no Momento Literário da reunião ordinária de setembro da entidade
“A maioria de vocês já sabe que eu sou uma pessoa que é movida a sonhos, a emoções fortes. Alguém que sonha com uma mudança de mundo, com uma mudança da realidade em redor. Não é à toa que escolhi jornalismo como carreira. Hoje, mais do que nunca, percebo que essa profissão tão linda é capaz de transformar a minha realidade e a vida das pessoas sobre quem eu me proponho a contar a história e isto tudo me inspira e me emociona”.
Assim a escritora Núbia Istela, Cadeira 37 da Academia Saltense de Letras, patronesse Aurora Duarte, convidada do sábado (2) do Momento Literário da reunião ordinária de setembro da Academia, espaço criado pela atual diretoria da entidade para falar de literatura, iniciou o relato a respeito do seu processo criativo para histórias ficcionais nos seus livros e histórias reais no seu trabalho como jornalista na InterTV Grande Minas, afiliada da Rede Globo.
Para a escritora, não há processo de criatividade sem uma faísca de sonho. “O sonho, o desejo, essa crença no invisível, é uma força que move e que inquieta o nosso ser para ver o resultado da nossa criatividade dar frutos”. Núbia afirmou que o sonho é o ponto de partida, porque nele residem todas as esperanças das pessoas. E citou Fernando Pessoa no seu verso mais completo sobre o processo criativo: “Tenho em mim todos os sonhos do mundo”.
Paradas criativas
A escritora dividiu a sua escrita em seis partes que ela considera fundamentais para a geração do caos criativo: 1) o sonho, 2) as emoções, 3) o cotidiano, 4) a energia, 5) o caos propriamente dito e a 6) obstinação. “Se você não estiver inquieta por alguma coisa que está acontecendo, você não produz. Na minha opinião, o escritor precisa estar incomodado com alguma coisa em seu redor para transformar aquilo em uma produção criativa, em arte”.
Mas ela reforçou que antes dessas seis paradas obrigatórias da viagem pela criatividade, o escritor precisa responder a quatro perguntas essenciais: 1) quem eu sou?, 2) onde eu quero chegar?, 3) o que eu quero ser? e 4) o que estou fazendo para chegar lá? O autoconhecimento é o passaporte para o sucesso, segundo ela, pelo simples fato de que, conhecendo a si mesmo, o escritor passa a se respeitar e esse é o ponto de equilíbrio para a produção.
“É por meio desse autoconhecimento que o escritor entenderá qual o lugar em que ele cabe efetivamente no mundo, onde é o lugar que ele quer chegar na sua trajetória e de que forma e com que armas e potencialidades ele poderá ir atrás desse lugar com toda a força que dispuser no momento da criação. Depois de chegar a esse estágio, o escritor vai estar preparado para as etapas que virão de uma forma mais consolidada e produtiva, entende ela.
O processo criativo de Núbia Istela passa pelas emoções tão intensamente quanto passa pelo sonho. “Quanto maior a emoção, mais criativa eu fico”, revela. Ela conta que a profissão de jornalista tem lhe dado vivências emocionais sem par, sobretudo no trato com as crianças. “Eu estou conhecendo como é lidar com elas e estou amando”. A escritora afirma que se envolve também com as histórias de cada pessoa que é focada nas reportagens.
No rol das paradas criativas, há ainda o cotidiano. “A paixão pelo trivial me move com muita força. As pequenas ações do dia a dia me inspiram muito. Estou sempre a observar manias humanas que muitas vezes passam desapercebidas. Gestos e sotaques sempre roubam a minha atenção”. Ela afirma que aprende com esses comportamentos e até produziu um conto para a antologia deste ano da Academia com a riqueza do vocabulário mineiro.
Teste de resistência
O caos propriamente dito é o ponto de avanço mais significativo, segundo Núbia Istela. É nesse momento que tem tudo para dar errado no meio do caminho. Os estímulos são constantes para fazer desistir. “Bate um desespero, um medo de não dar certo, de fracassar. A ansiedade, a depressão, a preguiça, a procrastinação. Tudo isso suga a energia. E como ter energia para reagir? Vencendo um dia de cada vez para poder chegar inteira no final”, ensina.
A melhor maneira de chegar ao objetivo é sempre manter a obstinação e o apego forte e excessivo até às próprias ideias, resoluções e ao empreendimento. “Não há nada mais poderoso do que o ser que acredita no próprio propósito, nos próprios sonhos, na vontade de transformar o mundo. Esse ser é capaz de ir lá e fazer quando tudo parece desfavorável. Tudo porque ele aproveita as oportunidades. Nessa hora, se tiver medo, vai com medo mesmo”.
A palestra agradou aos acadêmicos presentes física e virtualmente. Essa foi a primeira reunião híbrida. Tanto a presidente da Academia, Anita Liberalesso Neri, Cadeira 11, quanto a vice-presidente Marilena Matiuzzi, Cadeira 39, agradeceram a Núbia pela aula de entusiasmo. Mônica Dalla Vecchia, Cadeira 5, ficou interessada nas entrevistas com crianças e Maria Christina Noronha Liberalesso, Cadeira 17, gostou do vocabulário mineiro.