Escritor foi o primeiro convidado do segundo semestre do espaço ‘Momento Literário’ da Academia Saltense de Letras para falar sobre a relação entre as suas carreiras como autor e como jornalista

 

O escritor Eloy de Oliveira faz exposição para os acadêmicos no ‘Momento Literário’

“Minha vida sempre foi movida por desafios, mas, antes de contar a vocês como eles mudaram os meus rumos, quero agradecer a todos por poder integrar esta Academia. Depois de iniciar esse convívio com vocês é que senti a necessidade de publicar as minhas obras e isto tem feito muito bem a mim hoje”, disse o escritor e jornalista Eloy de Oliveira no início da sua fala, na manhã de sábado (3), como primeiro convidado do espaço “Momento Literário”, que a Academia Saltense de Letras oferece nas suas reuniões mensais.

Titular da Cadeira 31 da Academia, patrono João Cabral de Mello Neto, o escritor disse que aprendeu com os desafios a importância das escolhas e das realizações. Ele contou que estudou eletricidade, eletrônica e eletrotécnica e que estava prestes a se tornar um engenheiro mecatrônico quando uma professora de português realizou um concurso de redação no ensino médio. “Eu ganhei o concurso e os colegas me incentivaram a levar o texto ao jornal, a fim de que fosse publicado e que chegasse a mais gente”.

Mostrando o livro “Apenas um esbarrão”, que teve lançamento em Portugal

Essa iniciativa levou o escritor a conhecer Virgínia Soares Liberalesso, diretora e editora do extinto jornal O Trabalhador, em Salto. Na época, o veículo era voltado às questões religiosas da Matriz de Nossa Senhora do Monte Serrat e não publicou o texto por ele ter caráter erótico. Mas a diretora gostou da forma como o autor escrevia e o convidou a trazer outros textos. “Eu escrevia desde os dez anos. Achava que eram ainda apenas garatujas, mas dona Virgínia gostou. Então comecei a publicá-las todas”.

 

Estreia no jornalismo

A relação entre o escritor e a diretora do jornal foi ficando cada vez mais intensa. Isto fez com que ela o convidasse para fazer reportagens. “A única diferença dos seus textos atuais é que terá de se ater à verdade. Não poderá deixar a imaginação dominar”, ela disse. “E foi assim que eu percebi que gostava daquilo. O jornalismo era um grande desafio, mas me realizava mais que a engenharia. Mudei a chavinha e fui estudar jornalismo. Depois de formado, assumi a direção e edição do jornal aos 20 e poucos anos”.

Os desafios não terminaram aí. Depois de O Trabalhador, Eloy de Oliveira foi para a Folha de São Paulo, Gazeta Mercantil, TV Globo e Rádio Jovem Pan, de repercussão nacional, e em todos os principais veículos do quadrilátero formado pelas cidades de Campinas, Sorocaba, Jundiaí e Piracicaba. Em 40 anos de atividades foram 93 veículos ao todo, que se subdividem em jornais e revistas impressos e online, tevês, rádios, portais, agências de comunicação e de publicidade, empresas, entidades, instituições e pessoas.

Os acadêmicos fizeram perguntas sobre a trajetória do escritor

Em 2002, quando estava na Gazeta Mercantil e o jornal enfrentava a pior crise financeira da sua história, o escritor e jornalista decidiu encarar um novo desafio: mudar de área. Deixou o jornalismo formal para atuar na assessoria e consultoria política. Ajudou a eleger de vereador a presidente da República. Nessa área foi chefe de Gabinete de uma deputada estadual e atingiu o cargo de secretário de Comunicação e Eventos da Prefeitura de Sorocaba, depois de coordenar a campanha vitoriosa do prefeito.

 

Risco de morte

Com a descoberta de que uma das válvulas do seu coração não estava funcionando, Eloy de Oliveira fez uma cirurgia de alto risco e o que exigia uma recuperação de seis meses se estendeu para um ano. Com essa situação e sem poder trabalhar, foi mantido pelos filhos, que bancaram seus gastos. Quando já estava recuperado da cirurgia, veio a pandemia que o afastou ainda mais do trabalho por integrar um dos grupos de risco. “Decidi me tornar professor de escrita criativa e passei a atuar como escritor fantasma”.

A partir dessas atividades, Eloy de Oliveira escreveu um livro a cada três meses e deu aula para diversos alunos, conseguindo se manter mesmo preso em casa por causa da pandemia. “A gente nunca pode amaldiçoar o que acontece na nossa vida. Muitas coisas ruins se transformam em coisas boas. Basta que as encaremos com outro olhar e com mais disposição. A pandemia me prendeu em casa, mas me permitiu escrever muito. O livro Catarina surgiu de um desafio que um concurso de Portugal me impôs”, disse ele.

Anotações sobre os vários livros lançados e sobre os planos para o futuro

Após a pandemia, o escritor e jornalista virou a chavinha novamente e partiu para outro desafio: voltar aos jornais da região. “Nunca tive preconceito com o recomeço. Sempre que tiver de recomeçar, farei isto”. Em 2021, assumiu a direção editorial do Grupo Mais Expressão de Indaiatuba, onde ficou por um ano e meio. Depois assumiu a direção editorial do jornal Primeira Feira, em Salto, onde ficou por mais quase um ano e meio. Em 2024, novo desafio: deixar o jornalismo desses veículos e partir para a assessoria de imprensa.

 

 

Desafios nos livros

“Todos esses desafios pelos quais eu passei, me fizeram mudar de área e me manter em atividade apesar das dificuldades para me adaptar”, disse o escritor e jornalista. Além de Catarina, os desafios também estiveram nos livros. Apenas um esbarrão surgiu de um desafio proposto por uma mulher no facebook. “Ela começou a história e queria que homens a continuassem como se fossem mulheres. Eu fiz um capítulo, mas ela sumiu. Decidi continuar e acho que desse desafio surgiu o meu melhor livro até agora”.

Outro livro que veio de um desafio foi A última noite de Helena. “Quando vi uma notícia do jornal Cruzeiro do Sul, de Sorocaba, dando conta de que uma menina de 16 anos havia morrido ao volante de um carro ao lado de um homem mais velho, eu me desafiei a fazer uma história inteira a partir disso. Minha inspiração sempre foi a partir de coisas simples como essa notícia, uma foto, uma frase, um caso que fiquei sabendo ou uma história que vivi. O resultado desse desafio foi o meu livro mais longo: são 506 páginas no total”.

Algumas passagens foram engraçadas e arrancaram risos dos acadêmicos

No encerramento da sua fala aos acadêmicos, Eloy de Oliveira ainda falou do seu último livro lançado em julho: Histórias que não cabiam nos jornais, que retrata os riscos de morte, as ameaças e as propostas esdrúxulas que recebeu para não exercer a sua profissão. O livro traz dez contos de veículos diferentes, mostrando os bastidores do trabalho do profissional de jornalismo e foca na forma como os jornais são produzidos no Brasil. “Ele integra uma série de três volumes produzida a partir de anotações de reportagens”.

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