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Informações gerais
Patrono: Luiz Castellari
Biografia
Bibliografia
Discurso de posse
Estou hoje aqui representando meu marido, Leandro Thomaz de Almeida, que cumpre na cidade de Campinas, exatamente no dia de hoje, compromisso inadiável. É uma pena, porque ele certamente preferiria estar aqui, em meio àqueles que em nossa cidade têm um olhar e um apreço especiais pela cultura.
A ele coube o elogio de seu patrono, Luiz Castellari. Dentre as qualidades de Castellari (entre elas a música, uma de suas paixões), talvez o que mais se destaque seja seu interesse pela história. Interesse confirmado pela suas visitas frequentes a acervos, monumentos históricos e museus, o que rendeu, no final das contas, a publicação póstuma do livro História de Salto, em 1971. É justamente essa curiosidade pelo que foi, essa dedicação por procurar entender o presente pela via da iluminação do passado, essa convicção de que sem o conhecimento de nossa história estamos menos aptos a aprimorar nossas escolhas para o futuro – atitudes que provavelmente animaram Castellari em seus dias – que fazem do interesse pela história e de seu estudo uma necessidade premente de nossa época.
O elogio a Castellari, assim, é o elogio a uma atitude.
Uma atitude mais que necessária nos tempos em que vivemos. Talvez seja uma característica de todos os tempos achar que seu próprio tempo é especial, único, singular. Não precisamos fugir à regra, mas talvez estejamos fadados a reconhecer que nosso tempo atual é singular pela ameaça representada seja por fantasmas do passado, seja por atitudes que acreditávamos indignas de aparecerem em plena luz do dia. Atualmente não é incomum nos depararmos com defensores abertos de ditaduras, do mesmo modo que podemos ler reportagens afirmando a presença de dezenas de células nazistas espalhadas pelo Brasil, embora concentradas em cidades do Sul e Sudeste. Nesses tempos, o conhecimento da história se faz ainda mais urgente e necessário, daí que o elogio a um amante da história acaba por se revestir de significado emblemático. De maneira absolutamente concisa, qual a importância da história para nós? Ou, para dizer de outro modo, por que incentivar o estudo da história a fim de que mais “Castellaris” surjam entre nós? Por três motivos que vão a seguir.
O primeiro é que o estudo da história é eficiente para nos fazer superar o senso comum. Quando se criam certas unanimidades que vão sendo difundidas sem muita base factual, é a história que permite vencer frágeis consensos, na medida em que ela pode trazer o real à tona. Esse gesto da história não deve ser confundido com um apelo ingênuo às coisas “como de fato ocorreram”, porque sabemos que o discurso histórico está sempre dependente de interpretações de fontes diversas. Mas é possível superar a afirmação fácil de que “a verdade não existe”, ou as ideias prontas e largamente difundidas, por meio da investigação cuidadosa e compromissada com a reconstrução verossímil do ocorrido.
O segundo se associa prontamente a essa época – agora sim – de fato singular em que vivemos, na qual há mais apreço pela informação que vem de maneira instantânea e fragmentada pelo dispositivo eletrônico do que por aquela que é adquirida pelo trabalho paciente da leitura e da reflexão. A história não vê o tempo como adversário, por isso ele é seu aliado na elaboração dos significados de nossos gestos no mundo. A velocidade da informação na atualidade é bastante indigesta à reflexão histórica, da mesma maneira que o é para a construção de conhecimentos sólidos sobre nós e nossa forma coletiva de viver. A história é mais lenta, mas mais certeira; nossa impaciência contemporânea encontra aí um antídoto.
Finalmente, a história tem a capacidade de lançar luz nas trevas, convidando-nos a sair da caverna das sombras para a iluminação do dia claro. Esse é um processo constante, por isso constante é a tarefa de quem busca o conhecimento. Mas, como já aprendemos com a filosofia, saber disso, saber que não se sabe, é o primeiro passo para o conhecimento. Alguém duvida de que estamos realmente carentes disso? A história nos guia nessa trilha.
Terminamos, assim, nosso elogio. Elogio a Castellari. Elogio à história de que era amante. Muito obrigado.