Um dos grandes nomes do pensamento intelectual é, sem dúvidas, o do filósofo, medievalista e crítico literário Umberto Eco (1932-2016). Era detentor de uma visão e análise ímpar de diversos aspectos da sociedade. Recentemente busquei em minha biblioteca realizar novamente a leitura de um pequeno livro lançado em 2020 com uma coletânea de textos que foram palestras apresentadas pelo escritor. O livro chama-se Migração e Intolerância.

Tem sido um material importante para reflexões em minhas aulas de Geografia e abre horizontes para questionamentos de situações que podemos observar com certa frequência nos jornais através de reportagens. Um dos pontos altos da discussão é a xenofobia. Vale lembrar que Eco analisa no livro a realidade europeia, chegando a mencionar que “no próximo milênio […], a Europa será um continente multirracial ou, se preferirem, “colorido”…” (ECO, 2020).

Na verdade, o próximo milênio do qual o autor se refere é justamente o milênio que estamos, chegando a tal conclusão ao analisar o intenso fluxo migratório para o velho mundo. Vale destacar que a migração foi um dos assuntos em pauta para o Brexit e a consequente saída do Reino Unido da União Europeia.

Muitas vezes esse fluxo de migrantes pode causar em algumas mentes intolerantes ao Outro (aquele que é diferente de mim) a xenofobia. Isso pode ser visto na Europa como em diversos outros territórios, inclusive pelas bandas de cá. Lembremos o trágico caso do congolês Moise Kabagambe, espancado até a morte no Rio de Janeiro. Xenofobia, racismo, dentro outras formas de discriminação, são males que devemos combater nesse mundo cada mais globalizado (globalização esta que nos gabamos tanto).

Para Umberto Eco, a intolerância é antecessora a qualquer forma de preconceito e discriminação, chega a mencionar e explicar duas formas evidentes de intolerância: o fundamentalismo e o integrismo. Para o primeiro, cita o autor:

Em termos históricos, o “fundamentalismo” é um princípio hermenêutico ligado à interpretação de um livro sagrado. O fundamentalismo ocidental moderno nasce nos ambientes protestantes dos Estados Unidos do século XIX e caracteriza-se pela decisão de interpretar literalmente as Escrituras, sobretudo no que se refere às noções de cosmologia, cuja veracidade a ciência da época parecia colocar em dúvida. (ECO, 2020).

Para o integrismo, o autor define que é “uma posição religiosa e política segundo a qual os princípios religiosos devem tornar-se ao mesmo tempo modelo de vida política e fonte das leis do Estado.” (Eco, 2020).
Partindo para o campo religioso, observamos diversos casos de intolerância em países que se declaram como Estado Laico, cada vez mais discursos eufóricos que esbanjam preconceitos contra a maneiro do Outro viver simplesmente por uma interpretação daquilo que determinada religião vê como inadequado, vão sendo normalizados, hoje temos até um termo para isso, o famoso “discurso de ódio”.
A intolerância está tão marcada em nossa sociedade que se chegou ao extremo do famoso apresentador do Podcast Flow sair em defesa da existência de um partido Nazista no Brasil, ao vivo, diante de um debate com dois Deputados que pouco reagiram ali ao ouvirem tamanha manifestação preconceituosa que fere Direitos Humanos.

Por fim, deixo aqui a indicação da leitura que possibilitou algumas reflexões, tenho certeza que muitas outras também poderão ser feitas.

Um bom fim de semana a todos!

ECO, Umberto. Migração e Intolerância. Rio de Janeiro: Record, 2020.

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