Focada na produção de um romance, Marilena Matiuzzi busca o melhor
Escritora terminou três livros, um de crônica, um ensaio e um diário de viagem, e agora que uma obra mais elaborada e com conteúdo de forma a enriquecer quem desejar conhecer o texto
Depois de terminar um livro de crônicas, um ensaio e um diário de viagem, a escritora, poeta, advogada e vice-presidente da Academia Saltense de Letras, Marilena Matiuzzi, tem se dedicado diariamente à produção de um romance. “Escrevo praticamente todos os dias. A boa escrita é como praticar um esporte: é necessário exercitar constantemente, estudar sempre e ler muito, para que haja fluidez na linguagem e a técnica seja aperfeiçoada a cada dia”, afirmou.
Titular da Cadeira 39 da Academia, patronesse Cora Coralina, ela chega a mais um aniversário neste domingo, 24 de março, focada em produzir um dos seus melhores trabalhos e para isto não pretende impor pressa nem prazos. “O meu objetivo é fazê-lo com calma para ter uma boa construção de personagens, do contexto em que estão inseridos, da escrita literária, e, sobretudo, que ele tenha conteúdo, de forma a enriquecer quem desejar conhecê-lo”.
A dedicação ao romance não fica apenas na apuração da técnica e na escrita constante para ter fluência e continuidade. Em razão da escrita na busca de fazer um bom romance, Marilena Matiuzzi se dedica também diariamente à leitura de escritores diversos, seja pelo gosto de conhecer outras técnicas literárias e visões diferentes de mundo, seja porque a leitura assídua colabora definitivamente para que ela melhore efetivamente a sua escrita.
“Há alguns meses, quando entendi que os trabalhos anteriores dos três livros estavam praticamente prontos, passei a me dedicar a escrever o romance, mas ainda me considero sem tempo para escrever como eu gostaria”, revelou a escritora. Para ela, a entrega ao trabalho como advogada tem consumido muito do seu tempo ainda. Mas aos poucos vem conseguindo encaixar um período para a literatura. São as minhas paixões. Então tenho de me dividir”.
Ela afirma que vivencia literatura desde que se conhece por gente. “Sempre amei a literatura, os bons livros, ler, falar sobre eles, escolher, enfim, é parte da minha vida esse envolvimento”. A escritora destaca que gosta demais dos clássicos, mas é aberta aos novos talentos e, entre os gêneros literários, gosta mais da boa poesia. Por essa razão, suas incursões pela carreira de escritora começaram pela poesia com o lançamento dos livros “Inquietação”, em 2011, e depois “Sentires”, em junho de 2022.
Mulheres escritoras
Como sugestão de leitura a partir de livros que tem lido, Marilena Matiuzzi diz que gosta de conhecer técnicas literárias e visões de mundo diversas, então, sua leitura acaba naturalmente sendo bem eclética. “Estou lendo bastante literatura feita por mulheres nesses últimos dois ou três meses e, dos que li, sugiro: “Uma história feita por mãos negras”, de Beatriz Nascimento, organizada por Alex Ratts; “Niketche”, de Pauline Chiziane; e “Véspera”, de Carla Madeira. Todos os três são livros muito bons e que vão enriquecer o leitor”.
Na área do Direito, desde a sua formação, Marilena se dedica firmemente a consolidar a sua formação e a conhecer áreas que considera importantes. Neste sentido, ela já fez especializações em Direito da Mulher, Direito de Família e Direito Processual Civil. Sua formação abraça ainda causas que têm muito a ver com o social e com os que mais precisam, uma vocação sua. Na área do Direito ainda, ela fez também uma pós-graduação em Direito Constitucional e uma especialização em outra área que procura entender o ser humano mais no detalhe especificamente, a psicanálise.
Essa preocupação com a área social e com as pessoas já a levou a ser vereadora por dois mandatos e a primeira mulher candidata a prefeita de Salto. Apesar disso, a escritora afirma que perdeu tempo com a política, porque acha que pode fazer mais pelas pessoas com a literatura. A disputa dessa vertente literária com o Direito ainda tem nuances como o fato de ela pintar quadros e os filhos. “Tenho uma família linda, com filhos honestos, saudáveis, amorosos, inteligentes e independentes, que me dão orgulho e alegria”.
Ela ressalta que tem netinhas que fazem o seu coração transbordar de amor, irmãos e sobrinhos queridos. Ou seja, a alegria com a família vai além do círculo mais próximo. “Tenho amigos leais. Tenho muitas atividades em uma profissão que amo e que me realiza. Trabalho todos os dias da semana. Participo de várias atividades sociais e culturais. Faço atividades físicas. Vivo bem”, resume. Mas Marilena Matiuzzi quer mais: tem sede por aprender e dividir com os outros o que aprendeu e de conhecer e repartir o conhecimento.
Literatura de oportunidades
Em uma análise sobre o momento da literatura hoje no Brasil, Marilena Matiuzzi afirma que ela tem se caracterizado por uma diversidade de vozes, temas e formas de expressão. “Com o advento da internet e das redes sociais, houve uma democratização sem precedentes no acesso à literatura, permitindo que autores emergentes tenham mais visibilidade e que leitores de diversas partes do mundo possam se conectar por meio de obras literárias”. Uma das tendências marcantes que observa é o surgimento de narrativas que abordam questões sociais, políticas e identitárias.
Para ela, há uma exploração grande por parte de escritores sobre temas como diversidade, justiça social, inclusão e sustentabilidade em suas obras, o que, sem dúvida, reflete os desafios e as preocupações da sociedade contemporânea. Além disso, a literatura teve uma grande expansão nos formatos e nas plataformas de publicações, segundo a escritora. “Os livros físicos continuam populares, mas os e-books e os audiolivros ganharam espaços significativos, proporcionando novas maneiras de consumo”.
Outro aspecto relevante para a escritora é a crescente intersecção entre a literatura e outras formas de arte, como cinema, música, teatro e artes visuais. Entretanto, apesar de todos esses aspectos que julga positivos, de avanços e oportunidades, proporcionadas pela era digital, Marilena Matiuzzi considera que a literatura ainda enfrenta desafios, como a concentração de poder nas mãos das grandes editoras e a dificuldade de garantir uma remuneração justa aos autores, especialmente os independentes.
A escritora avalia ainda que há uma saturação do mercado editorial e uma proliferação de conteúdo de qualidade variável dificultando a descoberta de novos talentos e de obras significativas. “Penso, portanto, que o momento da literatura hoje é marcado por uma mistura de inovação, diversidade e desafios, o que não deixa de refletir as complexidades e contradições do mundo contemporâneo e, apesar dessas dificuldades, a literatura continua a desempenhar um papel fundamental na cultura e na sociedade, proporcionando um espaço para reflexão, imaginação e conexão humana”.