FERROVIÁRIO, UM LEGADO FAMILIAR
FERROVIÁRIO, UM LEGADO FAMILIAR
Por Andrade Jorge
“TIN… TIN… TIN … LUZ VERMELHA NA ABOLIÇÃO,
CARRO, CHARRETE, LAMBRETA, GENTE, NADA SE MOVE,
NA PASSAGEM DE NÍVEL, ANTE A CANCELA: PARE, ATENÇÃO!
PORQUE VEM AÍ O TREM DA UMA E NOVE.”
A Rua Abolição, em Jundiaí/SP, tornou-se um símbolo, porque no final dela, após a casa de número 341 estavam as linhas dos trens na passagem de nível, onde meu velho pai trabalhava na Porteira, depois modernizou para Cancela; Digo que se tornou-se um símbolo, porque ele conseguiu, graças ao seu esforço, ser promovido a Porteiro e morar na casa da Cia. Paulista de Estrada de Ferro, ao lado de seu trabalho. Por que elevo o fato a um grande feito? Para alguém pouco letrado, e que por vários anos trabalhou sob sol e chuva na chamada “soca” das linhas dos trens, sim foi um grande feito. E a casa da Paulista na Rua Abolição 341 foi o troféu, a expressão máxima da conquista do Sr. Benedito Jorge, carinhosamente conhecido por Didi.
Eu tinha dez anos quando mudamos para aquela casa, e lá vivi por vinte anos, cresci com o som estridente dos apitos das máquinas azuis da Paulista, ou do seu barulho característico:
“TARRAN TARRAN, TARRAN TARRAN, SÃO OS RANGIDOS
DAS BITOLAS SOB AS RODAS DA COMPOSIÇÃO,
ECOS DE TEMPOS IDOS,
ACORDES DE UMA FERROVIÁRIA CANÇÃO.”
Um tempo de magia na vida daquele menino, que fazia do quintal de sua casa um mundo de sonhos e fantasias, e somente voltava à realidade quando um trem passava, aí outra fascinação tomava conta, mas havia um horário de trem que o encantava, era o trem passageiro da Uma e Nove.
“A COMPOSIÇÃO ESTÁ NO SEU FINAL,
QUANDO ALGUÉM AO MENINO ACENA,
ESTE DE IMEDIATO RESPONDE AO SINAL,
E PENSA “AINDA HEI DE FAZER ESTA CENA!”
E o tempo passou, como tudo passa nesta vida, mas ficou marcado no íntimo do menino, e quando adulto, tentou matar a saudade
─ “UMA PASSAGEM, POR FAVOR,
A RESPOSTA ME COMOVE:
─ NESTE HORÁRIO, NÃO SENHOR!
JÁ NÃO EXISTE MAIS O TREM DA UMA E NOVE.”
A minha convicção, em ser um ferroviário, desviou-se feito as linhas dos trens, que nos levavam para todos os lados, também segui outros caminhos, não fiz a cena e nem fui ferroviário.
Entretanto, o velho Didi, não ficou marcado somente em mim, seu filho, o legado e orgulho de ser “Ferroviário” ele deixou para sua neta, minha filha Luana Martins Andrade Jorge.
É notório a vibração dessa mulher-menina, e o encanto que ela tem pela ferrovia, verdade que já não tem mais o charme de outrora, mas é a ferrovia em ação nos trens da CPTM, empresa que ela trabalha.
Aqueles que nutrem de sua amizade, e a acompanham pelas redes sociais podem notar seus comentários e fotos a respeito, e o orgulho que ostenta ao vestir sua farda de ferroviária para trabalhar nas Estações no trecho Jundiaí/São Paulo.
Fico orgulhoso também, e o velho Didi hoje deve estar sorrindo…. afinal avô e neta merecem os parabéns, ele por ter sido e ela porque é ferroviária.
Luana, você tem duas paixões: Ferrovia e Literatura, ferrovia como já salientei herdou de seu avô, e a literatura está em tuas veias como estão nas minhas. Conseguiu agradar Avô e Pai,
“Avôhai! Como canta Zé Ramalho”
Notas do Autor:
1) O Dia do Ferroviário é comemorado no dia 30 de abril, foi nessa data, em 1854, que foi inaugurada a Estrada de Ferro Petrópolis, também conhecida como Estrada de Ferro Mauá, primeira linha de ferro brasileira.
2) O termo “soca” era o trabalho executado ao longo das linhas de trens, na fixação dos trilhos, e dormentes e a colocação das pedras.
3) Os versos citados são da poesia “O trem da uma e nove da Paulista” de minha autoria
Foto Benedito Jorge e Luana M. Andrade Jorge
30/04/2020
agradeço as visualizações e interesse