Cynara Lenzi Veronezi foi a convidada do mês no ‘Momento Literário’, que homenageou os dias dos professores e das crianças

 

A escritora Cynara Lenzi Veronezi com uma das bonecas que usa nas suas palestras

A escritora de livros infantis e professora aposentada Cynara Lenzi Veronezi, Cadeira 18 da Academia Saltense de Letras, patrono Dante Alighieri, emocionou os colegas escritores na reunião mensal da entidade, sábado (7), ao participar do “Momento Literário” e contar que se reinventou depois de receber uma crítica severa de um professor ainda no 7º ano de escola.

Ela foi a convidada do mês a usar o espaço criado pela atual diretoria da Academia para tratar de literatura e falou dos seus 32 anos como professora em Salto, em uma homenagem aos mestres, e ao mesmo tempo da sua ligação literária com as crianças, já que hoje faz uma média de dez palestras por mês, onde conta histórias infantis, em escolas de Salto, Itu, Indaiatuba e Campinas.

As palestras também servem para levar os livros que ela escreve com as histórias que ouve nessas visitas e que a tornaram conhecida até em outros Estados, de onde recebe encomendas de histórias infantis. Já são cinco livros lançados: “Historinhas”, “Historinhas pra contar”, “Minha fiel escudeira e eu”, “A pandemia no reino encantado” e “E foi assim que aconteceu… Salto”.

Imagem do período em que a escritora foi criticada por um professor e que foi marcante para ela

“Eu era uma excelente aluna, mas um dia, em uma reunião de pais, o meu professor disse para minha mãe que a filha dela era uma mosca morta. Minha mãe ficou muito triste. Ela me perguntou por que ele havia dito aquilo. Foi ali que eu virei a chave: ele disse que sou mosca morta, então ele vai ver. Depois disso, tudo o que professor perguntava em sala, eu respondia antes”, disse ela.

Logo o professor percebeu que havia exagerado, segundo a escritora, porque era visível que a participação dela era intensa. “Eu perturbei esse professor ainda nos anos seguintes. Ele achava que a mosca estava morta, mas ela estava só dormindo”, se divertiu, e não deixou de condenar a atitude do professor, pois, como professora, defende o incentivo pelo elogio e nunca pelo julgamento.

Ao descrever como se apresenta para as palestras, Cynara Lenzi Veronezi contou da preocupação em passar conceitos formadores às crianças. Ela usou a história ruim que aconteceu com ela e que, embora tenha sido propulsora à sua mudança, para mostrar o impacto do professor nas crianças. “O professor é responsável pela criança que o segue”, parafraseou “O Pequeno Príncipe”.

 

Surge a escritora

Cynara segura um dos bonecos e a escritora Cristina Maria Salvador um dos livros dela

“Eu sempre conto a eles que não gostava de escrever. Talvez por achar que nunca seria tão boa quanto meu pai (Valter Lenzi, que fundou e dirigiu o jornal mais antigo de Salto, o Taperá, por mais de 50 anos), mas eu queria mudar o final das histórias. Como ensino que não se deve mudar as histórias dos outros, tive de escrever as minhas próprias histórias e foi assim que me tornei escritora”.

As histórias da Cynara escritora vieram das próprias crianças. “Tenho uma escrita simples, mas efetiva. Digo o que as crianças gostam. Não escrevo o politicamente correto. Eu só levo a informação com começo, meio e fim”, disse. Ela contou que escreveu a primeira história e mostrou para o pai. Ele gostou. Depois criou uma coluna no jornal. Hoje já são quase 600 histórias.

As vivências pessoais também ajudaram. “Minha filha maior não queria comer. Meu marido comprou um boneco e brincava com ela imitando a voz de criança: você não vai comer? Aí ela passou a comer. Eu incorporei o boneco nas minhas apresentações. O Zezinho agora é meu e faz o maior sucesso. Um dia tive de ficar segurando-o para uma fila de crianças o beijarem”.

 

Experiências

Ao longo da sua apresentação, a escritora mostrou uma série de bonecos que tem usado nas suas palestras nas escolas. “Cada um tem um sentido. O Zezinho é o mais popular. Tento mostrar que ele não tem medo. As crianças gostam disso. Tem o Torresmo, que mostra que a gente não deve fazer mal aos outros, porque pode ser vítima desse mal. E agora virá a Juju, que usa aparelho nos dentes.

Para Cynara Lenzi Veronezi, o professor é responsável pelas crianças que o seguem

Outra experiência foi na pandemia. Acostumada a visitar as escolas, ela foi impedida pelo isolamento. Então passou a fazer as visitas virtualmente e introduziu a pandemia nas histórias clássicas. “A Branca de Neve virou uma piadista para distrair os sete anões. Rapunzel se tornou escritora ao observar tudo da sua torre. Os Três Porquinhos usavam máscara e o lobo jogava cartas com a vovó”.

Desenhista por paixão desde criança, Cynara Lenzi Veronezi ilustra os livros com essa outra qualidade. “Faço um livro prático. Levo a criança a raciocinar. Um dia uma criança me perguntou se o livro era caro. Eu disse: você vai ver no final. Depois de mostrar tudo o que um livro pode nos fazer viajar, ele disse: o livro não é caro. Outra me disse que não pôde comprar o meu livro e o dei a ele”.

 

Reconhecimento

O último livro dos cinco escritos por Cynara Lenzi Veronezi

Agora a escritora vai realizar o Prêmio Taperá, que está na sua sétima edição e destaca as histórias mais criativas das crianças. “Neste ano o concurso vai mudar de nome: será Prêmio Valter Lenzi, em homenagem ao meu pai”, disse. O jornalista e um dos fundadores da Academia Saltense de Letras faleceu em dezembro do ano passado. O prêmio já levou 500 crianças à Sala Palma de Ouro.

Neste ano também o prêmio será levado às escolas em vez de reunir os alunos em um local. Os estudantes estão criando histórias voltadas para falar de uma suposta viagem à lua. “Eu amo fazer isto. Essa ligação com as crianças. Já estou aposentada, mas sempre sinto que vai ter alguém me esperando em uma sala de aula”, disse em meio a lágrimas por se lembrar do seu tempo de professora.

Para a presidente da Academia, Anita Liberalesso Neri, Cadeira 11, o sucesso de Cynara já a levou a públicos maiores. “Você é um exemplo de educadora”, disse a vice-presidente Marilena Matiuzzi, Cadeira 39. Gasparini Filho, Cadeira 12, disse que o fazer diferente é que faz a diferença da escritora. Elogios que repetiram Francisco Moschini, Cadeira 23, e Alberto Manavello, Cadeira 9.

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