Decisão foi tomada devido à procura pelo livro-reportagem lançado em 2005 e que está esgotado há alguns anos, no qual Kátia Auvray expõe a realidade cruel que existe por trás de um hospital de hansenianos em Itu

A escritora Kátia Auvray mostra a capa da primeira edição do livro

A escritora Kátia Auvray, Cadeira 16 da Academia Saltense de Letras, patronesse Cecília Meireles, anunciou para setembro deste ano a segunda edição do seu livro-reportagem “Cidade dos Esquecidos – A Vida dos Hansenianos Num Antigo Leprosário do Brasil”, que sairá agora pela editora Mirarte, cuja primeira edição de 2005 se esgotou há anos e a procura ainda é crescente.

O anúncio foi feito durante um bate-papo de um grupo de acadêmicos com a autora no “Momento Literário” de sábado (5), espaço criado pela atual diretoria da Academia para receber escritores convidados, seja da própria entidade ou externos, que vêm falar das suas obras e para discutir projetos voltados ao desenvolvimento da literatura e à sua divulgação.

Kátia Auvray disse que o trabalho de preparação da nova edição já está concluído e aos cuidados da editora. Ela adiantou que o material será ampliado em um prefácio e um posfácio em relação ao que foi publicado há 18 anos pela antiga ituana Ottoni Editora. E explicou que a Ottoni fechou as portas e que, por isso, não havia mais como produzir novos exemplares daquela edição.

No prefácio, ela vai detalhar o que a levou a produzir o livro em 2005 e que foi tema, inclusive, da sua exposição aos acadêmicos que participaram da reunião ordinária de sábado da Academia. A escritora disse que sentiu necessidade de explicar como chegou ao material do livro e o que objetivava, porque surgiram indagações sobre o seu posicionamento: “Não sou ativista. Fiz por indignação”.

Obra foi escrita em 2005 como uma forma de indignação da escritora com a situação

Revolta e investigação

“Tudo começou quando fui procurar sobre a falta de água em Itu e encontrei a informação de que o padre Antônio Pacheco da Silva havia sido o primeiro apóstolo dos lázaros na cidade e que tinha utilizado a sua riqueza financeira para cuidar dos ‘morféticos’, como eram chamados à época, e ainda para levar água à cidade, mas soube também que o nome dele vinha sendo apagado”, disse ela.

“Eu fui procurar um rato e achei um gato”. A referência serve para explicar que um outro padre, Bento Dias Ferraz, havia se apropriado da história do padre Antônio. Kátia constatou, por exemplo, que havia placa enorme com o nome do padre Bento como benfeitor e outra minúscula fazendo referência ao padre Antônio. “Não achei aquilo certo e resolvi investigar o que era aquele asilo-colônia”.

Todo o trabalho realizado pela escritora foi lastreado em documentos que ela resgatou dentro do hospital (alguns literalmente no lixo), com muitas fotos e com testemunhais conseguidos dos internos por meio de uma convivência alcançada com três visitas por semana durante dois anos. “No começo havia vigia que me acompanhava e cerceava. Depois, ele desistiu”.

Foram dois anos de pesquisas e convivência para chegar ao conteúdo do livro

Esquecimento e dor

As pesquisas levaram à descoberta que dá título à obra. O antigo leprosário ou Hospital Francisco Ribeiro Arantes era uma cidade, com direito a espaços para a criação de animais, cassino, cinema, estação de rádio e até uma cadeia, e foi desenvolvida assim para dar a impressão aos internados de que eles viviam em um mundo real. Dessa forma, não atinavam para estarem presos.

“Uma das coisas que mais me impressionaram foi entrar na cadeia caindo aos pedaços e dar de cara com uma revoada de morcegos assustada pela luz da lanterna”, revelou. Mas ela ficou encantada também por saber que na cadeia havia uma pintura de uma moça no jardim e diversos poemas escritos nas paredes, o que revela que a arte era uma forma de enfrentar o martírio.

Preocupação sempre foi com a verdade 

Ela conta que as casas ou taboeiros como eram conhecidas, reproduziam uma cidade, mas não uma cidade normal. “Em uma das casas, não havia janelas. A moradora mantinha a porta com muitas trancas. Ela tinha medo dos novos moradores. Como uma cidade, havia também traficantes e prostituição visível”. Demorou para que conseguisse ganhar a confiança dos moradores.

Combater o mal

A intenção da escritora com o lançamento da segunda edição do livro-reportagem é fazer chegar a mais gente as informações que colheu e combater o que aconteceu naquele asilo-colônia, para que não se repita mais. Depois da publicação da primeira edição, o livro virou referência na área e vem sendo procurado por estudantes, profissionais do direito e pessoas ligadas à causa.

Relatos são chocantes e instigam, segundo a presidente da ASLe

Neste sentido, o posfácio que será acrescentado à segunda edição trará uma atualização de como está o hospital hoje e os moradores que estão vivendo ainda lá. A escritora lembra que hoje o número de internos gira em torno de 300, mas já chegou a 5.000 nos tempos de mais intensidade dos asilos-colônias. O Brasil teve um total de 35 asilos-colônias e esses locais foram piores entre 1926 e 1960.

A presidente da Academia Saltense de Letras, Anita Liberalesso Neri, Cadeira 11, patrono Odmar do Amaral Gurgel, disse que o relato da escritora choca e instiga. Para Antônio Valini, Cadeira 10, patrono Jota Silvestre, as investigações de Kátia Auvray têm importância acadêmica além de literária e devem repercutir ainda mais, 18 anos após a primeira edição, por haver consciência maior do problema.

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Poliani Cruz
1 ano atrás

Onde encontro esse livro? Já procurei em diversos lugares e não encontro

1 ano atrás
Responder para  Poliani Cruz
Poliani Cruz
1 ano atrás

Trabalhei nesse hospital e gostaria de conhecer mais sobre o local, pacientes…

1 ano atrás
Responder para  Poliani Cruz

O livro será lançado no dia 21 de setembro. Vejas os detalhes na imagem. Mas você pode adquirir na pré-venda como mencionado acima.

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