Ex-presidente da Academia Saltense de Letras, a escritora, professora e psicóloga quer aproveitar o tempo para se informar mais, para processar esse conhecimento e repassá-lo aos que mais precisam da informação ao final

 

A escritora Anita Liberalesso Neri, que acaba de deixar a presidência da Academia de Letras

A escritora, professora e psicóloga Anita Liberalesso Neri, ex-presidente da Academia Saltense de Letras, vive um momento de intensa dedicação à literatura. Ao completar 78 anos nesta terça-feira, 9 de julho, ela se diz mergulhada em um oceano literário vasto e diversificado, distribuído entre a sua vida literária e científica.

Em um universo multifacetado e apaixonado pelo conhecimento e pela arte das palavras, ela explora romances de ficção e históricos, além de poesias e crônicas, que ocupam um espaço significativo em sua rotina de leitora ávida. No entanto, a produção de literatura científica também tem um papel crucial em sua trajetória. “Cada uma a seu modo, ambas dão prazer, trazem reconhecimento, me encantam e me ensinam”, afirma, destacando a importância equilibrada de ambas as vertentes em sua vida.

Anita encara o tempo como um espaço de realizações e não quer perder nem um segundo em termos de literatura, sobretudo porque está aposentada formalmente desde 2016 como professora e pesquisadora da Unicamp, embora continue trabalhando como professora colaboradora no Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da universidade, agora em um ritmo mais lento e sem tantas exigências.

Neste sentido, ela demonstra todo o seu entusiasmo com a premiação de Adélia Prado, agraciada com o Prêmio Camões recentemente. Ela enalteceu não só a importância do prêmio, mas também a contribuição poética de Adélia Prado, que começou a sua vida literária depois dos 60 e não perdeu tempo. “Vejo esse prêmio como um reconhecimento incrivelmente importante da delicadeza da pena e da sensibilidade, espiritualidade e criatividade de Adélia Prado”, comenta a escritora, ressaltando o impacto positivo da poetisa mineira na renovação da poesia brasileira.

A visão de Anita sobre a literatura brasileira contemporânea é cheia de esperança e de entusiasmo. Ela observa uma diversidade temática e de formas literárias, além da ascensão de vozes de minorias étnicas, de gênero e econômicas. “A literatura brasileira hoje é pulsante”, declara, celebrando tanto os autores consagrados quanto os novos talentos que vêm emergindo no cenário literário.

 

Imersão literária

Ler livros conceituados ajuda a tornar a informação mais prazerosa

No mergulho que faz na literatura hoje, a ex-presidente da Academia Saltense de Letras mostrou parte das suas leituras dos últimos meses, proporcionando uma janela fascinante para suas escolhas literárias: “A Biblioteca Secreta de Londres”, de Kate Thompson, é um romance baseado em uma história real, ambientado em uma estação de metrô abandonada durante a Segunda Guerra Mundial, que se tornou um refúgio para pessoas em busca de consolo e leitura. Eu me identifiquei com esse romance”.

Ela também leu “Faca. Reflexões sobre um atentado”, de Salman Rushdie. “Uma narrativa poderosa sobre o atentado sofrido pelo autor e sua jornada de recuperação, entrelaçando amor, resiliência e a luta pela liberdade de expressão. Gostei muito”.

“América Latina, lado B”, de Ariel Palácios, é outra escolha recente que ela considerou muito eloquente. “Uma crônica política envolvente que aborda convulsões sociais e instabilidade política na América Latina, com uma linguagem afiada e histórias saborosas.

Outro livro que povoou a mente da escritora nos últimos 60 dias, mas este com mais vagar pela complexidade da obra, foi “Preconceito: Uma história”, de Leandro Karnal e Luiz Estevam, dois colegas dela como professora e pesquisadora da Unicamp. “Trata-se de uma análise profunda e complexa sobre a história dos preconceitos e suas consequências, desvendando a misoginia, xenofobia, racismo e outros ismos que temos de combater”.

 

Leituras futuras

Além dessas obras, Anita menciona sua expectativa para a leitura de um livro sobre a história dos cinemas de Salto, escrito por autores saltenses, e sua curiosidade por um romance japonês que promete ser uma metáfora envolvente sobre a jornada de um afinador de pianos. Ela está ansiosa pelo lançamento ainda do novo livro de Chico Buarque de Holanda, “Bambino a Roma”, que promete ser mais uma adição preciosa à sua vasta coleção literária. Com lançamento previsto para agosto de 2024, o livro já está em sua lista de leituras desejadas.

 

 

Ao lado de seus familiares, Anita se realiza e também junto dos amigos

Voracidade constante

Anita Liberalesso Neri sempre foi precoce. Talvez seja por isso que ela tenha começado a ler aos cinco anos. “Eu li tudo o que me passou por perto e gostava de estudar”, lembra. Mas era uma menina que só comia para não morrer de fome como reclamavam os pais. Mesmo assim, se dedicou a conquistar uma formação sólida e se tornou professora e psicóloga, fez mestrado e doutorado em psicologia na USP, livre docência em educação na Unicamp e dedicou a maior parte de sua carreira aos estudos sobre a velhice, suas perdas e ganhos, seus limites e possibilidades em sociedades plurais.

A aposentadoria reduziu um pouco suas atividades, mas ela se mantém ativa e realiza vários projetos ao mesmo tempo. Se diz realizada com o mandato de dois anos à frente da Academia Saltense de Letras, encerrados em junho último.

Depois de uma carreira profícua, desenvolvida principalmente na PUC Campinas e na Unicamp, onde ela orientou 111 teses de doutorado e dissertações de mestrado e publicou 203 artigos científicos, 146 capítulos de livros e 28 livros, todos na modalidade de literatura científica, o grande desafio agora é escrever crônicas e contos, recuperando um projeto abandonado na juventude.

Mas ela está tranquila sobre os seus projetos. Anita afirma que seu trabalho ao longo da vida foi um prólogo para o mais importante e o que a realiza hoje: viver junto com sua família, ver o desenvolvimento e estar com os filhos e netos, rir e conversar com os amigos, viajar, tocar piano (que aprendeu na infância) e orientar alunos e seguidores a partir do que aprendeu.

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