DOUTORA NILZA E CRISTIANO
Enfim o casal Lucia e Roberto, após muita espera foram agraciados com o nascimento da filha Nilza, com o tempo tornou-se uma bela jovem, e o desejo dos pais e dela própria era concluir o curso de Medicina, e ser a Dra. Nilza Souza. Ela passou no vestibular para Medicina, aplicou-se por longos oito anos e mais dois de residência, e passou a clinicar. Nilza era uma boa Medica, rígida em seu horário de trabalho, nunca perdia hora de entrada no Hospital que trabalhava, mas em contrapartida não ficava um minuto a mais além da hora determinada em seu contrato de trabalho.
Alguns anos se passaram e a Dra. Nilza se casa com Henrique, que também era Medico, e tiveram um filho registrado e batizado como Cristiano. O menino foi criado com todo carinho e desvelo, contudo, em sua época de estudo na faculdade de Odontologia fez amizade com colegas que faziam uso de drogas, não demorou e Cristiano sucumbiu. O vicio é um inimigo feroz, quase todo dinheiro que recebia de seus pais para pagamento da faculdade, e sua manutenção, ele deixava nas mãos dos traficantes em troca das drogas.
Cristiano visitava seus pais a cada quatro meses, porque a faculdade ficava em outro Estado, e a visita do filho deixava os Doutores Roberto e Nilza numa alegria incontida, naquele mês Cristiano avisou que chegaria no dia quinze, e a mãe fazia de tudo para uma boa recepção, começava preparar a casa bem antes da data marcada.
Da vez anterior que Cristiano foi visitar os pais, visitou também a “biqueira” que vendia as drogas que usava, porém ficou devendo uma boa quantia, e deveria ter pago antes de viajar de volta, mas não pagou e voltou para sua faculdade.
Cristiano mal chegou em sua cidade, na data aprazada, foi avistado por homens do movimento, que o reconheceram, enquanto ele aguardava um taxi, um carro parou ao seu lado, desceram dois homens que o obrigaram a entrar no veículo, sob ameaça de arma, foi levado para um cativeiro.
Doutora Nilza terminava seu plantão as 20 horas, e como sempre não ficava nem um minuto a mais no hospital, principalmente naquele dia que seu filho chegaria, já havia dado a sua hora, quando chegou um caso urgente no pronto socorro, ela foi avisada, mas não quis nem saber, seu horário terminou e estava de saída, e que o medico que a substituiria tomasse conta do caso, entretanto, foi informada, também, que o médico que a substituiria estava atrasado, mesmo assim ela foi embora, alegando que seu filho chegaria de viagem e iria recepciona-lo. Tecnicamente ela estava com a razão, porém profissionalmente como medica, estava ferindo os princípios que norteia o juramento de Hipócrates.
Dra. Nilza chegou em casa, começou a dar os últimos ajustes na casa, bem como observando o jantar que seria servido, toda comida a gosto do filho. A hora passou e nada de Cristiano chegar, ligou em seu celular e estava mudo, ficou até tarde da noite aguardando a chegada do filho, e nada, e nada de algum aviso. Seu marido Roberto tentando acalmá-la ainda disse que no dia seguinte com certeza ele chegaria.
O filho não chegou, e cada um foi para o seu trabalho, afinal tinham pacientes para ser atendido. Doutora Nilza foi para seu consultório e de lá iria dar seu plantão no Hospital, trabalhou preocupada com a demora do filho. Saiu do consultório foi para o hospital, ao chegar na sua sala de atendimento um enfermeiro pediu para que ela analisasse o prontuário que estava à sua mesa, era referente ao paciente que houvera chegado na emergência na noite anterior. Ela abriu o envelope com a ficha e o nome que leu a deixou pálida e tremula, dizia na ficha paciente Cristiano Souza Ribeiro, filho de Nilza e Roberto, óbito às 21:30 horas, causa da morte ferimento por arma de fogo, vários projéteis no corpo e cabeça.
Cristiano foi levado pelos homens num cativeiro, la foi espancado, e depois atiraram a queima roupa, por várias vezes, e seu corpo foi jogado a beira de uma estrada na periferia da cidade, tudo porque ficou devendo na biqueira e não pagou.
Doutora Nilza ficou com remorso por não ter atendido a urgência do pronto socorro, ela dizia que se tivesse atendido talvez teria salvo o filho. Isso ninguém sabe, mas, neste caso seria um milagre.
Doutora Nilza Souza Ribeiro ficou com o estado mental abalado, e decidiu parar de clinicar.
Escrito por Andrade Jorge, Escritor/Poeta
23/10/2024
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