Dia de levantar bandeira
LEVANTO POUCAS bandeiras, mas algumas carrego durante toda a vida.
No próximo dia 12 de outubro comemora-se o Dia das Crianças, que não foi criado como “dia de dar presentes”, mas para conscientizar a sociedade sobre os direitos das crianças e adolescentes.
Depois de aprovado o projeto de lei do deputado federal fluminense Galdino do Valle Filho, a data foi oficializada pelo Decreto nº 4867, de 5 de novembro de 1924.
Ela não se tornou pop logo de cara. Tal qual no Natal, onde a Coca-Cola deu um reforcinho extra com o Papai Noel, o Dia das Crianças só ganhou popularidade nos anos 1960, a partir das ações da Fábrica de Brinquedos Estrela e da Johnson & Johnson, que criaram a “Semana do Bebê Robusto” para aumentar as suas vendas.
Foi assim que a conscientização sobre os direitos das crianças e dos adolescentes (quase) foi para o espaço. No mundo, a data é celebrada em 20 de novembro, em homenagem à aprovação da Declaração dos Direitos da Criança, em 1959.
Apesar da atenção mundial ao tema, milhares de menores são recrutados como guerrilheiros em conflitos armados, nas guerras e guerrilhas do Oriente Médio, África e, também, na América do Sul.
Recentemente vizinhos como Colômbia, Peru e Paraguai registraram casos de sequestros e resgates de crianças de acampamentos guerrilheiros, de adolescentes foragidos do recrutamento forçado, e até infiltrados nas Forças Armadas regulares.
Os meninos-soldados são arrancados de suas famílias e submetidos a treinamento militar com armas pesadas, para servirem a ideologias tanto de esquerda quanto de direita.
Também já vimos guerrilheiros mirins africanos, donos de uma crueldade sem precedentes que, seguindo o exemplo dos adultos, torturam e mutilam seus adversários.
Por aqui ainda não chegamos a tanto. Estamos em processo de ensino-aprendizagem, com o incentivo à aquisição de armas e munições, redução de impostos para essa categoria de “bens” e “abolição” do Estatuto do Desarmamento, que proíbe fabricação, venda, comercialização e importação de brinquedos que sejam réplicas e simulacros de armas de fogo.
Os resultados são espetaculares, como o mega assalto ocorrido em Araçatuba/SP, em setembro, onde 98 bombas foram localizadas nas ruas, bancos, em carros abandonados e em um caminhão deixado perto das agências bancárias, além das estratégias empregadas pela quadrilha, que utilizou reféns como escudos, deitados sobre os tetos dos carros.
Mas nada se comparara à inacreditável apresentação de um menino de 6 anos, diante do País, vestido com a farda da Polícia Militar de Minas Gerais, com uma arma de brinquedo nas mãos, numa cerimônia oficial em Belo Horizonte, sob aplausos da plateia.
A exibição do menor em tais condições foi denunciada por Organizações não governamentais (ONGs) e entidades em defesa dos direitos humanos ao Comitê de Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas, que alertou para a violação dos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, e que os responsáveis serão criminalizados.
O Estado brasileiro tem o dever de proteger as crianças de serem expostas a quaisquer formas de violência. O estímulo ao uso de armas é entendido como um estímulo à violência, e não faz parte do cotidiano e da vida infantil.
Doze de outubro é o Dia das Crianças. Que tal darmos menos brinquedos e levantarmos uma bandeira pelo que realmente importa?
Assisti essa cerimônia, se o menino não estivesse com uma arma de brinquedo, teria tanta repercussão? E por que as indústrias de brinquedo vendem tal produto e as Ongs não abrem luta contra? Penso que deveriam dar extrema atenção às crianças do continente africano, por exemplo, onde crianças morrem de fome, não brincam, querem comer.