Texto publicado originalmente na edição de 24 de abril de 2020 no Jornal Primeira Feira.

Coluna: Um dedinho de prosa

 

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Logo nos primeiros meses do ano de 1887, uma epidemia de varíola atacou a Província de São Paulo, isso fez com que muitas pessoas das cidades vizinhas se deslocassem até Salto em busca de refúgio de tal doença. Acontece que, como no momento que estamos vivendo, o ideal era que cada um ficasse em seus lares, evitando assim a propagação acelerada da doença.

Luiz Castellari (1901-1948) cita que bastou um cidadão que estava “bexiguento” (termo utilizado para se referir ao vírus) e que andava pelas ruas sem informar às autoridades sanitárias da época, para que uma boa parte dos habitantes da cidade, em pouco tempo, estivesse contagiada. Cita o historiador saltense que “Em fins de maio apareciam alguns casos de varíola, dias depois aumentavam e em princípio de junho recrudescia em forma epidêmica.”.

Segundo Castellari, foi graças aos investimentos do Dr. Barros Júnior que a tragédia não foi maior, aliás, ao ler o capítulo “Os trágicos dias dos surtos epidêmicos da varíola em 1887”, em sua obra História de Salto, nota-se uma grande admiração pelo homem conhecido como o “pai dos saltenses”. Além de contratar médicos da capital, o benfeitor pediu que fossem construídos os “lazaretos, e nele armazenava medicamentos, […], roupas, e para os convalescentes providenciou tratamentos especiais.”.

A princípio, os lazaretos eram casa isoladas que a Câmara selecionava e lá isolava os doentes. O historiador ituano Francisco Nardy Filho (1879-1959), ao qual já citei inúmeras vezes em textos aqui no “dedinho de prosa”, cita que em um primeiro momento, entre os séculos XVIII e XIX, os aluguéis de tais casas eram pagos pelas próprias pessoas que contraíram a doença. Somente depois (e o historiador não cita exatamente quando) é que a Câmara começa a arcar com as despesas do aluguel. Nardy, em seu texto intitulado “Lazareto”, afirma que os cuidados eram tantos que: “…assim que encorria em pena de trinta dias de prisão todo aquelle que, tendo bexiguento em sua casa, não levasse esse facto, dentro de uma hora, ao conhecimento da Camara; ainda mais, todas as pessoas que viessem de pontos onde havia bexigas, eram obrigadas a fazer quarentenas em casas determinadas pela Camara […].”.

O historiador continua sua crônica dizendo que, tempos depois, as medidas foram se tornando menos rigorosas sendo que, as pessoas que contraíam a varíola, poderiam ser tratadas em suas próprias casas, porém, estas deveriam “collocar uma bandeirinha vermelha á porta de cada casa onde havia bexiguento, para que desse modo viesse o povo ser sabedor e se acautelasse, não passando por esses pontos”.

Pois é, meus amigos leitores, a História nos mostra que não é de hoje que medidas de isolamento social são importantes para conter uma doença contagiosa. As bandeirinhas vermelhas seriam naquela época os #fique em casa” dos dias de hoje.

Desejo a todos um bom fim de semana.

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