Crônicas de viagens I – Uma dose de memória
Texto publicado na edição de 28/08/2020 no Jornal Primeira Feira de Salto.
Coluna: Um dedinho de prosa
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Quando estou assistindo televisão na sala de casa, olho para a estante e vejo ali, enfeitando o local, um copinho de tomar ginjinha. Ginja é um tipo de cereja muito cultivado na Europa. Aquele pequeno copo, é também um objeto de memória, memória de uma incrível viagem que fiz com a minha esposa à Portugal e, mais especificamente, memória de uma cidade chamada Óbidos.
Em uma manhã nublada, partimos de Lisboa em direção a Óbidos, aliás, um fato curioso aconteceu antes mesmo de entrarmos no “autocarro”, como chamam os ônibus por lá, pois bem, os cidadãos lisboetas são um pouco, como posso dizer, rigorosos com a língua vernácula, em outras palavras, muitos levam alguns termos que para nós, brasileiros, são tão comuns, ao “pé da letra”, e ao pedirmos informações sobre qual ônibus exatamente deveríamos pegar para chegar em Óbidos, para um do policiais que estava conversando na rodoviária, aproximei-me e disse:
– Senhor policial, bom dia! Queremos ir a Óbidos… – imaginei que, como acontece aqui no Brasil, eu receberia de imediato algumas orientações. Após a pergunta, um silêncio de alguns segundos ficou no ar, até que ele, com um riso de lado, respondeu:
– Ok, boa viagem!
Naquele momento, Paula e eu nos olhamos, constrangidos, enquanto o policial e seu colega de trabalho riam alto. No momento não achamos graça, algum tempo depois rimos alto também. Bom, após os dois policiais darem boas risadas, ele nos explicou como proceder para chegar na cidade medieval.
Isso mesmo, Óbidos é uma bela de uma cidade medieval, com suas ruas e casas, suas várias Igrejas e toda aquela vida urbana acontece dentro das muralhas. É uma cidade cercada. Descemos em um ponto de ônibus a alguns metros de distância da entrada, um arco que deve passar no máximo duas pessoas lado a lado. Espetacular. Andamos pelas ruas, entramos em Igrejas, em livrarias e em Igreja que se tornou livraria. A fachada se mantinha como Igreja, dentro eram comercializados os livros.
O tempo nublado deu aspecto ainda mais medieval para a cidade, todo aquele imaginário que permeia nossas mentes quando pensamos em tal período, imaginário esse que discuto com os alunos para introduzir o assunto, nos veio à mente.
Em uma das lojas que entramos, nos foi oferecido o licor de ginja, em um copinho de chocolate. Tomamos, rimos, andamos e imaginamos. Óbidos nos proporciona boas memórias, me proporcionou esta crônica de viagem.
Bom fim de semana a todos!