Depois de ensaiar um tempo, ele disse:

– Acorda, minha princesa.

Ela respondeu:

Já acordei, mas não consigo me levantar.

Foi aí que ele se virou para ela lentamente e a encarou.

O rosto banhado em sangue. Faltava-se uma perna inteira e metade da outra. Era por isso que ela não se levantava.

Tentou não deixar transparecer o choque para não a assustar.

O problema é que não se lembrava de nada. Procurou refazer os passos até ali. Inútil.

Ao forçar para lembrar, sentiu a dor na pancada. Sua cabeça estava aberta. Um corte profundo no lugar de onde o cabelo havia saído.

O sangue também lhe escorria. Havia pensado antes que era suor.

Resolveu contar a ela:

– Não sei o que aconteceu, mas estamos morrendo.

Ela olhou para a cabeça aberta e, embora a visão lhe desse uma dor profunda, apenas deixou as lágrimas rolarem.

Então lhe confessou a ele:

– Eu te amo.

Ele disse:

– Eu também te amo.

Os dois olharam em volta, como se os olhos se perdessem por falta de forças, e viram que o dia amanhecia.

Ela disse:

– É de manhã e estamos morrendo.

– Sim, ele confirmou resignado.

Já quase sem voz, ela balbuciou:

– Quero te dizer uma coisa?

– O quê?, ele quis saber:

Ela puxou o ar que lhe restava com esforço e disse:

– Bom dia.

Antes que ela fechasse os olhos para sempre, ele respondeu:

– Bom dia.

Em seguida, também morreu.

O enfermeiro do resgate chegou no mesmo instante.

Intrigado, perguntou à colega que o acompanhava:

– Você me disse bom dia?

Ela respondeu:

– Nem morta.

Depois, recolheram os corpos de mais um acidente de moto.

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