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Informações gerais
Patrono: Jorge Amado
Biografia
Bibliografia
Discurso de posse
Exma. Sra. Anna Osta, DD. Presidente da ASLe — Academia Saltense de Letras.
Exma. Sra Rose Ferrari, DD. Vice-Presidente da mesma Academia.
Exmas. Autoridades já nomeadas anteriormente.
Caríssimos Componentes desta Academia.
Ilustres Visitantes, aos quais damos boas vindas.
Senhoras e Senhores.
Galardão mais significativo não poderia eu receber pelo fato de se incluir dentro da motivação maior desta noite, que é a do encerramento da Terceira SEMANA CULTURAL ETTORE LIBERALESSO, também o ato de minha posse na Academia Saltense de Letras.
Cabe-me, pois, o não menos significativo encargo, de tecer algumas palavras sobre o Patrono da Cadeira número 30, a mim destinada, uma das maiores expressões entre os autores brasileiros, - Jorge Amado.
Jorge Leal Amado de Farias, nascido no interior da Bahia, aos 10 de agosto de 1912.
Sua infância dera-se em Ilhéus, mas muito cedo foi levado a Salvador, tendo sido matriculado no Colégio Antonio Vieira.
Logo mais, aos catorze anos, já participava do grupo denominado "Academia dos Rebeldes". Faz-se logo depois, repórter no "Diário da Bahia"
De um salto, entre trêfego e curioso, aos 19 anos, desloca-se para o Rio de Janeiro e lá se forma em Direito, área, porém, em que nunca atuou.
No Rio, familiariza-se rapidamente num contexto bem a seu molde, com Gilberto Freire, José Lins do Rego e, com as mesmas nuances de boemia, faz-se íntimo de Vinícius de Moraes. Fora também Redator-Chefe da Revista Dom Casmurro.
Ocorre então o lançamento de sua obra inaugural, "O País do Carnaval". Vivia-se o ano de 1931.
Surge em 1933 0 seu segundo livro, intitulado "Cacau". É da mesma época de seu casamento com Matilde Garcia Rosa, com quem teve a filha Dalila. Militante comunista assumido, teve de se abrigar na Argentina e Uruguai, ocasião em que aproveitou para se estender num périplo pela América do Sul. No retorno, 1944, deu-se a separação do casal.
Época marcante em sua vida — e qual outra que não o terá sido — casa-se em 1945 com Zélia Gattai. Fruto desse consórcio, nasce-lhes o filho João Jorge.
De novo, pelo mesmo motivo, sua manifesta ideologia comunista, obriga-se a se asilar na França e de lá em Praga, nos idos de 1950 a 1952.
De volta ao Brasil e já então desvinculado de sua filiação política, entrega-se com exclusividade à literatura, marcada pela incessante autoria de novos livros.
Ponto alto, obviamente, a pujança e meticulosa densidade de suas obras, numa soma a superar mais de 30 volumes. Livros de estrutura densa.
Senão vejamos.
- "Terras do Sem Fim" (1943). Retrata com crueza e realidade, as disputas sangrentas por terras na região de Ilhéus, para exploração do cacau.
- Em "Pastores da Noite", enfoca a vida miserável dos meninos pobres, desvalidos, nas praias de Salvador.
- "Tenda dos Milagres", a Bahia de ontem, em meio a condições adversas, de miséria e opressão.
- "Teresa Batista Cansada de Guerra", 462 páginas. "De tão terna e doce, o doutor, homem fino, só a tratava de Teresa — favo de mel".
Em "Tocaia Grande", pareceu Jorge não querer terminar a obra como se muito mais tivesse para contar. 505 páginas.
Conhecidas de sobejo as adaptações de algumas de suas obras para o cinema, teatro e televisão. O caso inequívoco de êxito absoluto com as representações de "Dona Flor e seus dois maridos", "Gabriela cravo e canela", "Tenda dos milagres" e "Tieta do Agreste".
Escritor notoriamente fecundo foi além das três dezenas de obras, de forte conteúdo, como já se dissera.
As traduções se distribuem por 49 idiomas, façanha extraordinária em todos os sentidos.
Nome internacional, como comprovam suas premiações na Rússia, França, Portugal e Itália.
Também aqui no Brasil, com os prêmios Jabuti e pelo Ministério da Cultura. Membro da Academia Brasileira de Letras, na Cadeira 23, de José de Alencar, do qual o primeiro ocupante fora Machado de Assis. Tríade singularíssima de autores.
Pela objetividade marcante do autor, seja-lhe também reconhecida a fecundidade de ideias. Essa qualidade pediria por assim dizer, não lhe restasse tempo para adornos ou floreios, perante a realidade crua e nua. O cotidiano de uma era determinada.
Com o advento de "Capitães da Areia" e "Mar Morto" é censurado em 1936. Tais obras foram proibidas na época pela censura do Estado Novo.
Membro Correspondente da Academia de Ciências e Letras Alemã, Academia de Ciências de Lisboa, da Academia Paulista de Letras e membro especial da Academia de Letras da Bahia.
Narra com crueza, seja permitido o entrever do linguajar direto, o autor caracteriza-se por uma terminologia não amena, sem rebuços nem rodeios.
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É voz corrente até no vulgo, a verdade de que atrás de um sucesso masculino, no que quer que seja e de meritório, quase sempre se esconde uma figura feminina.
No caso de Jorge Amado, essa assertiva se confirma, sobre o detalhe de que Zélia Gattai, ela de expressão e cultura por si só e independentes, aplainou ainda mais os caminhos do marido, vida a fora.
Veja-se então, também, a presença de Zélia na vida de Jorge Amado.
Considere-se Zélia desde logo, alguém de um espírito aventureiro, isto a julgar pela índole de seus pais, imigrantes italianos a pretender fundar a célebre "Colônia Cecília", como comunidade anarquista na selva brasileira. Fora casada, primeiramente, com o intelectual Aldo Veiga, com quem teve o filho Luis Carlos Veiga.
A essa altura, 1945, ela já se fizera leitora de Jorge e veio a conhecê-lo em São Paulo; casaram-se nesse mesmo ano.
Com a extinção do partido comunista, em fins de 1947, também os eleitos pela legenda foram expulsos do parlamento.
O casal então permanece na Europa durante 5 anos. De volta ao Brasil, Zélia escreve seu primeiro livro de memórias - "Anarquistas Graças a Deus".
Vem a lume seu livro "Um Chapéu para Viagem". Abebera-se Zélia, a esse ensejo, das histórias dos Amado, contadas por dona Lalu, mãe do escritor. De Zélia também, inúmeras outras publicações, que a inserem no cenário, como autora de relevo.
Chegaram enfim a quase duas dezenas os prêmios alcançados por ela, desde 1980 a 2001.
É eleita para a Academia Brasileira de Letras, na Cadeira 23, a mesma ocupada pelo marido célebre. Praticamente no mesmo ano acaba eleita também para a Academia de Letras da Bahia e para a Academia Ilheense de Letras.
Há um acervo fotográfico da esposa, que retrata período áureo, a contar da vida particular e comum de ambos.
Essa joia documental fora doada à "Fundação Casa de Jorge Amado" em 1991. Dele se contam também fotos relativas aos mais de 50 anos dessa vida conjugal.
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E, para concluir, voltando ao âmago do tema desta noite, assinale-se que Jorge Amado veio a falecer no dia 6 de agosto de 2001.
O velório ocorreu no Palácio da Aclamação, em Salvador (Bahia).