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Informações gerais

Cadeira: 24
Posição: 2
Ocupantes anteriores: Rogério Lamana
Data de nascimento:
Naturalidade:
Patrono: Carlos Drummond de Andrade
Data de posse: 08/12/2024

Biografia

Bibliografia

Discurso de posse

É com muita alegria que escrevo essas palavras para assumir a cadeira 24 na ASLe, com o patrono Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores poetas do século XX, o meu preferido (olhem só que coincidência!), que foi um imortal sem fardão, pois não aceitou o convite da Academia Brasileira de Letras para se tornar um. Nasceu em Minas Gerais, mas se mudou para o Rio de Janeiro aos 32 anos. Faleceu em 1987 e, em 2002, esse mineiro quase carioca recebeu uma homenagem da cidade que o acolheu: uma estátua em que está sentado num banco admirando Copacabana. Agora quero iniciar uma prosa com ele, na companhia de vocês.

Drummond, faz tempo que não o encontro pessoalmente, sentado diante daquele calçadão tão famoso. Nós nos vimos por três vezes, mas como turista às vezes tem pressa, minha passagem foi rápida, o tempo de uma foto e um cochicho ao seu ouvido. Hoje, recebo-o aqui, não diante do mar, mas desse belo salto d’água, numa biblioteca e (me disseram) tenho um pouco de tempo para uma prosa como bom itabirano e boa saltense gostam.

Quero lhe contar uma novidade, a qual foi inesperada para mim, confesso, e, ao mesmo tempo, uma honra. Ao saber que ia encontrá-lo, fiquei pensando que, se eu tivesse vivido no início do século XX, como você, eu, hoje com 45 anos, seria, talvez, uma senhorinha aposentada, porém, felizmente, os tempos mudaram e não sou, aos 45, uma professora aposentada, mas olhando para minha história e para o meu futuro, sinto que ainda tenho um longo caminho a percorrer (assim espero!) e o que é bom: a vida tem me apresentado muitos desafios.

Um deles começa hoje, sabe, Drummond, e você há de me ajudar. Na verdade, começou num bate-papo gostoso, quase despretensioso, lá em abril deste ano, justamente aqui, nesta biblioteca, na Semana Cultural Ettore Liberalesso, com os acadêmicos saltenses e minha família. Tratamos de uma mulher forte, negra, com poucos anos de estudos escolares, mas que a literatura e a vida a ensinaram a escrever: Carolina Maria de Jesus e seu quarto de despejo. Depois, voltei em agosto, para outro bate-papo, agora com vestibulandos, num projeto literário bonito, ideia desses mesmos acadêmicos, sobre Ailton Krenak, ativista indígena, e a moçambicana Paulina Chiziane. Autores esses que ganharam mais voz nesses últimos tempos, que lutam por uma sociedade mais digna, por respeito às suas comunidades e culturas e fazem isso pelos caminhos da leitura, da escrita, uma forma de arte que acredito ser transformadora para o indivíduo que a produz e para a sociedade que a contempla.

O crítico literário Antonio Candido, que o considerava o poeta das inquietudes, Drummond, afirmou: a literatura é um direito de todo ser humano, assim como a alimentação, a moradia, a saúde, a liberdade individual. Para Candido, a literatura tem o papel social de formar os sujeitos exercendo um papel humanizador. Nas palavras dele: “a literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos à natureza, à sociedade e ao semelhante”.

Hoje o desafio aceito é o convite para ocupar a cadeira 24, na ASLe, tendo-o como patrono. Acredito, como Candido, que a literatura é humanizadora e penso que a ASLe pode proporcionar esse direito a outros e a mais saltenses. Afinal, é triste a realidade apresentada pela pesquisa “Retratos da Literatura no Brasil”, divulgada no último dia 19 de novembro: 53% dos entrevistados não leram nem mesmo parte de uma obra nos três meses anteriores à pesquisa, ou seja, a maioria dos brasileiros não leem.

Portanto tentarei fazer com que a leitura vá além desse espaço aqui, que a literatura chegue a mais pessoas porque esse grupo de acadêmicos tem a chave para isso, como você afirmou em seu poema Procura da Poesia:

“Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?”

Hoje recebo a chave das mãos de pessoas queridas, como a Mércia, a minha sempre professora Toni, a Marilena, que, como tantos outros aqui, já a têm e que lhes foi dada em 2008, por alguém tão especial para Salto (e para mim): o (meu tio) Ettore. Homem que sempre admirei pelo seu conhecimento de vida, pelos causos mil que ele gostava de contar e pelo cuidado no ouvir. Ele tinha a chave para manter protegida e acessível a história dessa cidade, tão especial para mim!

Tomo posse hoje dessa chave e conto com sua ajuda, Drummond. Em fevereiro, reencontro-o aqui e proseamos mais.

Obrigada.