Ficção de Cura
Está chegando o mês de dezembro.
Os preparativos para a programação natalina começam a rondar nossas mentes, impulsionam o comércio local e exigem bastante planejamento. Há quem se preocupe com uma bela decoração para sua casa, há aqueles que se preocupam com a programação familiar, receber ou fazer visitas, preparar pratos, viajar ou simplesmente relaxar.
Aqui em casa, durante o mês de dezembro, a TV é praticamente da Paula (minha esposa) por tempo integral. Isso acontece devido aos streamings ou canais de filmes que preenchem sua programação com romances estadunidenses típicos dessa data, com filmes (em sua maioria) de roteiro leve, previsível, arrisco em dizer até que padronizado e diálogos sem muita complexidade, porém, o mais importante de tudo, são filmes para relaxar. Paula adora, e não é que de tanto assistir por tabela também passei a gostar, deixa a mente livre em tempos de estímulos exagerados.
Em uma época que vivemos uma sociedade do cansaço, tal como descreveu o filósofo Byung-Chul Han, um tempo contemplando uma programação mais leve ajuda a aliviar um pouco nossa mente muitas vezes sobrecarregada. Os estímulos são diversos e chegam por diversas direções, principalmente das telas dos celulares. A sociedade do cansaço é uma sociedade que superou a disciplinar de Michel Foucault. De acordo com Han, somos ao mesmo tempo carrascos e vítimas de nós mesmos, buscando sempre ser útil, seguir certos padrões e tendências sociais, tentamos dar conta de tudo pois nos é vendida uma ideia de que sim, podemos tudo. E qual a colheita dessa sobrecarga emocional? Ansiedade, depressão, insegurança, insatisfação, insônia, síndrome de Burnout, entre tantos outros distúrbios, sendo os males do nosso século não mais causados por vírus mas por Distúrbios Neuronais.
Dentro de tal sociedade, algumas válvulas de escape são importantes, fazer atividades que dão prazer e aliviam a mente são imprescindíveis.
A literatura é uma das grandes invenções humanas, o poder que ela tem para transformar vidas é incrível. Recentemente descobri um estilo literário que me encantou, tal como nossa relação com filmes de Natal, comecei a me relacionar com a chamada ficção de cura. São romances que se popularizaram no Japão e Coreia do Sul e agora estão bem presentes nas livrarias brasileiras. Suas histórias se passam em cenários aconchegantes como livrarias, bibliotecas, cafés, estúdios de fotografias… Não são narrativas mirabolantes em terras distantes com civilizações complexas ou extremamente tecnológicas. Não existem jogadas amorosas sentimentais vampirescas ou magias e piratas, são coisas do cotidiano que poderiam acontecer com qualquer um de nós: um encontro casual em um café, uma reflexão no ponto de ônibus sobre uma nova proposta de emprego, sair ou não da casa dos pais, mudar-se para uma cidade grande, vender livros em uma pequena livraria local, conhecer pessoas interessantes em uma loja de conveniência, enfim, histórias que nos prendem e ao mesmo tempo nos trazem leveza. Tem dias que é somente isso que a gente precisa.
A ficção de cura tem me ajudado bastante a entender ainda mais sobre algo que escrevi certa vez no jornal Primeira Feira, é preciso o deleite, fazer atividades sem necessariamente um propósito útil mas por pura contemplação, para alimentar a alma e aquecer o coração, é preciso nadar em rios de águas tranquilas e fugir do mar da sociedade do cansaço. É preciso ler.
A literatura cura.
Um bom Dia Nacional do Livros.
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Recomendações de livros da ficção de cura que li recentemente:
Meus Dias na Livraria Morisaki
A Inconveniente Loja de Conveniências
A Biblioteca dos Sonhos Secretos
A Lanterna das Memórias Perdidas
Sobre a sociedade do cansaço:
A Sociedade do Cansaço
Recomendação de curta sobre o poder da leitura:
Meu Amigo Nietzche – https://www.youtube.com/watch?v=FroyMvgYfm0
Textos no Jornal Primeira Feira sobre o deleite cultural
Pelo deleite cultural – Parte I – https://portalprimeirafeira.ciol.com.br/pelo-deleite-cultural-parte-i/
Pelo deleite cultural – Parte 2 – https://portalprimeirafeira.ciol.com.br/pelo-deleite-cultural-parte-2/
Como sempre é um prazer gigantesco ler seus textos. Parabéns!