Titular da cadeira 20 da Academia Saltense de Letras, a escritora também faz uma crítica ácida ao Brasil de hoje, que está distante de valores fundamentais

 

A escritora e professora Cristina Maria Salvador: tempo para leituras e releituras especiais

Depois de ficar afastada por mais de um ano e agora sem poder ainda atuar integralmente nas suas principais atividades como escritora, professora e liderança comunitária, devido a sequelas da Covid-19, o que a tem deixado taciturna e reclusa ao seu apartamento ou a uma chácara que mantém em Salto, Cristina Maria Salvador tem aproveitado o tempo para intensificar um projeto de autoconhecimento e de reflexão diante da vida e do futuro.

Ao completar 82 anos na quarta-feira (4 de outubro), a titular da cadeira 20 da Academia Saltense de Letras, cujo patrono é Archimedes Lammoglia, conta que tem se dedicado a um mergulho espiritual, por meio de leituras significativas visando entender o seu papel na vida hoje e o que ela e os outros esperam dela no futuro, o que, ela diz, tem sido oportuno para o seu crescimento como pessoa.

 

Fruto literário

“Esse resgate já resultou em dois trabalhos literários, o livro ‘Passado & Presente se Entrelaçam para o Futuro’, que lancei em 2021, e a minha participação na coletânea da Academia deste ano. Depois se estendeu com o curso ‘Teologia para Leigos’ e agora o encontro com alguns autores tem trazido boas contribuições. Autores como Santa Teresa de D’Ávila de ‘Castelo Interior ou Moradas’ e Santo Agostinho de ‘Confissões’ e ‘A Cidade de Deus’”.

A escritora diz que também tem procurado reler clássicos, como “Anna Karênina: Romance em oito partes”, de Leon Tolstói e Oleg Almeida, que apela à razão e ao coração do leitor e que tem como protagonista uma mulher linda e sensual que ousou desafiar as convenções morais de sua época, e “O Falecido Mattia Pascal”, de Luigi Pirandello, que desvenda os mistérios da identidade.

 

Sentido de vida

“Vejo a literatura como a arte de compor ou de escrever seja em prosa ou em verso, bem como a relação de sua importância por criar possibilidades a estudos mais sofisticados, a servir como instrumento de ampliação de vocabulário e a ampliar o universo do conhecimento, ou seja, pela literatura conseguimos acompanhar a narrativa do caminho do ser humano no mundo e seu sentido de vida”.

Para Cristina Maria Salvador, esse mergulho em busca do autoconhecimento e a tentativa de se manter atualizada com os grandes temas da humanidade por meio dos clássicos é a forma que ela encontrou para atravessar esse momento difícil da recuperação, que a tem prejudicado principalmente no que se refere à locomoção, tirando dela, que sempre muito ativa, a independência e autonomia.

 

Características

Afastar-se das atividades que desenvolvia não é uma tarefa fácil, pois a escritora se envolveu em diversas ações ao longo da vida, como o Inevat (Instituto de Estudos do Vale Tietê), a Sociedade Cultural Giuseppe Verdi, a Academia Saltense de Letras, o Curso de Teologia e ainda o grupo de teologia como ministra extraordinária da Sagrada Distribuição da Eucaristia, das quais sente muita falta.

Mas a escritora mantém suas características herdadas de família de ter uma postura cidadã, valores religiosos rígidos e a paixão pela cultura e pela vida em sociedade. “Sempre vivi em grupos. Desde a minha juventude, meus pais acolhiam nossos amigos. Assim, a casa era ponto de encontro. Longas conversas, partidas de baralho, danças. Tempo maravilhoso que ficou na lembrança”, recorda-se.

 

Durante entrevista para Mirna Bicalho no programa Lado a Lado

Crítica ácida

E é por essas características que ela não deixa de fazer uma crítica ácida à situação do Brasil de hoje. “Vivemos uma época de incertezas. Vejo a literatura em um processo de decadência nesse todo: decadência política, moral, social, econômica, espiritual. Famílias, cujo papel é fundamental na formação do ser humano, estão desarticuladas. Pergunto: Quem é família hoje? Não tenho resposta”.

A mesma colocação a escritora faz sobre os professores desrespeitados e agredidos fisicamente por alunos. “As pessoas de bem estão presas em casa, por medo de ataques de vândalos. Drogas, assaltos, assassinatos, invasão de propriedades alheias.  Pais matando filhos, filhos matando pais. Irmãos matando irmãos.  Pode até se pensar que essas questões sempre existiram, mas não como hoje”.

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