Eu poderia comprar a vila inteira
Esta frase sempre me foi repetida em casa. Não porque venho de família pobre, mas para que nunca colocasse a ambição acima de tudo.
Tem muita gente que zomba desta interpretação sobre o dinheiro. Até há uma frase que se contrapõe: “Dinheiro não traz felicidade, manda buscar”.
Mas acredito que o sentido inicial seja o verdadeiro.
Certa vez, eu assessorava uma autoridade política importante e rica, a quem não faltava nada em bens materiais visivelmente.
Em uma visita que fizemos juntos a uma favela, percebi que o que faltava a ela era o emocional.
Ela tinha brigado feio com o marido.
Estava abalada, mas, rigorosa que era com os compromissos assumidos, não quis adiar.
Ventava muito nesse dia.
O cabelo dela ficou todo desgrenhado.
No lugar em que fomos, tomamos café com marido e mulher em um casebre que mal parava em pé.
Os dois se tratavam com tanto amor que chamava a atenção de todos em volta.
Causava inveja.
Juntos, pediram à autoridade que eu assessorava apenas que lhes ajudasse em uma cirurgia de catarata para a mulher, que estava com dificuldade para enxergar.
Saímos do barraco e essa autoridade desabou em choro compulsivo, me assustando.
Eu não entendi de pronto.
Ela então me perguntou:
– Você é feliz?
Eu retruquei:
– Por quê?
E ela respondeu:
– Porque felicidade é isso. Eles têm um ao outro. Não precisam de mais nada.
Fiquei sem saber o que dizer.
Ela completou:
– Eu poderia comprar essa vila inteira, mas não a felicidade deles.