Topa?
– Ela viajou.
– Mas por que não me levou?
– Ela estava com pressa.
– Não queria ficar. Eu queria ir com ela.
Por que ela não me levou pai?
– Eu já disse: ela estava com pressa. Você vai ficar bem aqui Isabela. Venha, venha comigo. Vamos para a sua cama agora.
– Não, eu queria ir com ela. Com elaaaaaa. Espera, ela também não te levou. Por que ela não te levou?
– Ela estava com pressa.
– Que pressa é essa seu Francisco que esquece a filha e o marido? Por quê?
– Tem coisas que são difíceis de entender até para a gente Isa.
– Não tem não pai. Quando ela ficou doente você disse que ela foi visitar tia Carmita e ela não tinha ido. Você está mentindo para mim de novo?
– Eu não queria que você ficasse chamando por ela. Depois, logo ela sarava e voltava. Ela não voltou? Voltou. Foi como eu pensava, como eu te falei.
– Então ela voltar agora pai?
– Eu não sei. Pode ser que não volte porque está muito bom lá. A gente não sabe. A gente não sabe como é lá.
– E ela vai deixar a gente aqui porque está bom lá onde ela está?
– Não, a gente vai para lá com ela.
– Que bom, eu vou arrumar a minha malinha. É só um minuto.
– Não Isa.
– Por que não? Eu quero ficar com ela. Sinto falta da minha mãe.
– É que não é o momento. Tem de esperar para ver se ela vai gostar de lá. Vai chegar a nossa hora.
– Eu posso ligar para ela?
– Não.
– Por que não? Eu tenho celular. Eu tenho crédito. Por que não pai?
– É que lá não tem celular.
– Onde minha mãe está não tem celular? Ela está em outro mundo? Todo lugar desse mundo tem celular.
– Eu acho que ela está sim em outro mundo minha filha.
– É tão longe assim?
– É uma distância daqui até o céu?
– Minha mãe está no céu?
– Sim filha. Ela está lá. Mas ela sente muita saudade de nós. Tente dormir agora. Você precisa descansar.
A pequena Isabela de apenas seis anos e meio se deita resignada e triste.
– Pai, a minha mãe morreu?
– Ela estava fraquinha meu anjo.
– Mas ela morreu?
– Em lágrimas, o pai continua:
– Não, ela fugiu desse vírus que está na rua e em todo lugar.
– E ele pegou ela?
– Não, por isso ela tinha pressa.
– Quando ela escapar, ela volta?
– Se ela escapar, ela volta. Mas a gente vai se encontrar com ela um dia.
– Vai mesmo?
– Um dia sim Isa.
– Por que você não salvou ela do vírus?
– Eu tentei, mas ele é muito forte. Chegou uma hora que ela correu para um lado e nós fomos para o outro.
– Por que ela não me levou com ela?
– Não levou para te salvar. O vírus foi atrás dela e esqueceu de você. Viu como sua mãe é sabida?
– Mas eu queria ir com ela.
– Sabe um jeito de você enganar o vírus e ver sua mãe mesmo agora?
– Que jeito?
– Você dorme e sonha com ela. Ela vai falar com você sem que o vírus perceba. Mas tem de ficar bem quietinha agora e dormir pesado. Topa?
– Topo.