FEDERICO GARCÍA LORCA, foi ator, diretor, pianista, ensaísta, pintor, dramaturgo e poeta. Era um artista completo.

Ele morreu fuzilado em 1936, aos 38 anos de idade, pelas forças antirrepublicanas da Espanha, um mês após o início da guerra civil no país.

Foi perseguido por suas convicções políticas contrárias ao fascismo espanhol representado por Franco, e por ser homossexual.

Tinha a natureza melancólica e dizem que em decorrência de ter sido rejeitado, inclusive por sua família, por sua preferência sexual.

Esse poema “Chuva” traz um pouco dessa melancolia, porém se supera em sensibilidade, ternura, delicadeza, beleza e amor. É recitado, no áudio que anexo aqui, pelo ator Joan Mora e é lindo ler o poema ouvindo a declamação dele em espanhol na voz desse artista.

Espero que apreciem e se inspirem.

 

CHUVA

 

A chuva tem um vago segredo de ternura,

algo de sonolência resignada e amável,

uma música humilde se desperta com ela

que faz vibrar a alma adormecida na paisagem.

 

É um beijar azul que recebe a Terra,

o mito primitivo que torna a realizar-se.

O contato já frio de céu e terra velhos

com uma mansidão de entardecer constante.

 

É a aurora do fruto. A que nos traz as flores

e nos unge do sagrado espírito dos mares.

A que derrama vida sobre as sementeiras

e na alma tristeza do que não se sabe.

 

A nostalgia terrível de uma vida perdida,

o fatal sentimento de ter nascido tarde,

ou a ilusão inquieta de uma manhã impossível

com a inquietude quase da cor da carne.

 

O amor se desperta por gris de seu ritmo,

nosso céu interior tem um triunfo de sangue,

mas nosso otimismo converte-se em tristeza

ao contemplar as gotas mortas nos cristais.

 

E são as gotas: olhos de infinito que fitam

o infinito branco que lhes serviu de mãe.

 

Cada gota de chuva treme no cristal turvo

e lhe deixam divinas feridas de diamante.

São poetas da água que viram e que meditam

o que a multidão dos rios não sabe.

 

Oh! chuva silenciosa, sem tormentas nem ventos,

chuva mansa e serena de sineta e luz suave,

chuva boa e pacífica que és, a verdadeira,

a que amorosa e triste por sobre as coisas cais.

 

Oh! chuva franciscana que levas as tuas gotas

almas de fontes claras e humildes mananciais.

Quando sobre os campos desces lentamente

as rosas de meu peito com teus sons abres.

 

O canto primitivo que dizes ao silêncio

e a história sonora que contas à ramagem,

comenta-os chorando meu coração deserto

em um negro e profundo pentagrama sem clave.

 

Minh’alma tem tristeza de chuva serena,

tristeza designada de coisa irrealizável,

tenho no horizonte um luzeiro aceso

e o coração me impede que corra a contemplá-lo.

 

Oh! chuva silenciosa que as árvores amam

e és sobre a planície doçura emocionante;

dás à alma as mesmas névoas e ressonâncias

que pões na alma adormecida da paisagem.


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Andrade Jorge
4 anos atrás

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Andrade Jorge
4 anos atrás

Espetaculo de texto e áudio