Em mil novecentos e oitenta e seis, eu tinha trinta e seis anos de idade, e o nosso País vivia alguns acontecimentos importantes, vamos relembrar um pouquinho:

  • O Cometa Halley visitou-nos, e agora próxima está prevista para 28 de julho de 2061, e será visível em praticamente todo o planeta, ou seja, daqui há 40 anos. Você aguenta até lá? Eu estaria com 110 anos, sem chance.
  • O nosso Presidente era José Sarney, primeiro Presidente pós governo militar. Lembrando que o eleito pelo povo, em voto direto foi Tancredo Neves, mas faleceu antes. Em fevereiro daquele ano foi instituído o Plano Cruzado, cujo objetivo era combater a inflação, e assim houve o congelamento de preços e salários.
  • No plano artístico em 4 de março de 1986, o programa Hebe foi ao ar pela primeira vez no SBT. Sucesso absoluto.
  • Em 26 de abril, Chernobyl na (Ucrânia, então União Soviética) foi assolada por um dos piores desastres nucleares da história. Um reator explodiu e liberou uma imensa nuvem radioativa contaminando pessoas, animais e o meio ambiente de uma vasta extensão. Pensou se fosse no Brasil? Estariam falando até hoje.
  • No mundo esportivo a Copa do Mundo FIFA de 1986 foi a 13ª Copa do Mundo disputada, e contou com a participação de 24 países divididos em seis grupos de quatro. A Argentina foi a grande campeã da Copa. Comandado por Diego Armando Maradona, com o inesquecível gol de mão. Aqui o São Paulo conquistou o Brasileiro e a Inter de Limeira sagrou-se campeã Paulista, derrotando o Palmeiras na final.
  • Em março daquele nascia Lady Gaga, que se revelou um fenômeno na música pop.
  • Para quem gosta, aconteceu o lançamento “Os Cavaleiros do Zodíaco”, uma série japonesa de mangá escrito e ilustrado por Masami Kurumada.

Relatei alguns fatos que aconteceram em 1986, porque naquele ano li um discurso do então Presidente Emílio Garrastazu Médici, que governou o Brasil de 30 de outubro de 1969 à 15 de março de 1974, e neste discurso, falava de uma viagem que houvera realizado ao nordeste brasileiro, e se comoveu com a seca e a situação dos nossos irmãos que lá viviam. E indagava, talvez para si mesmo, como era possível viver naquelas condições? Mas viviam.

Naquela época, quando li o discurso, fui pesquisar a respeito da inclemência climática na região. Conclusa a pesquisa, também, fiquei muito chocado com os dados, a precariedade que o povo de lá vivia, nem parecia que estávamos falando do mesmo Brasil.

Este fato impulsionou-me a escrever uma poesia sobre aquela situação descrita pelo Presidente Médici, por isso iniciei a narrativa dizendo que tinha trinta e seis anos quando li um discurso feito há aproximadamente dezesseis anos antes, e observei naquele momento, que as condições continuavam as mesmas.

Vamos falar um pouco destas condições.

POR QUE SERÁ QUE O NORDESTE É TÃO SECO? SERIA ISSO A CAUSA PARA A POBREZA NA REGIÃO?

A SECA

As principais causas da seca do Nordeste são naturais. A região está localizada numa área em que as chuvas ocorrem poucas vezes durante o ano. Esta área recebe pouca influência de massas de ar úmidas e frias vindas do sul.

Sobre as causas da seca na região, existem alguns motivos principais: em primeiro lugar, o relevo interplanáltico (isto é, depressões localizadas entre planaltos) desfavorece a circulação de massas de ar úmidas, ocasionando a falta de chuvas. Além disso, trata-se de uma região de latitudes equatoriais, com maior incidência de raios solares e, portanto, com maiores temperaturas. Soma-se a isso o fato de a região – ao contrário da Amazônica, por exemplo – não apresentar uma grande quantidade de rios caudalosos que favoreceriam a evaporação com a consequente precipitação em nível local.

A grande exceção, nesse caso, é o Rio São Francisco, principal recurso hídrico da região.

 

MOTIVO POLÍTICO

Apesar dessa série de eventos climáticos naturais que parecem conspirar para caracterizar a aridez da região nordestina, o motivo principal para as secas é, sem dúvida, político. Muitos autores utilizam a expressão Indústria da seca para se referir a essa questão, isso porque somente os fatores climáticos não são suficientes para explicar a miséria em que vive a população. Atualmente, em regiões áridas dos Estados Unidos e, principalmente, Israel, soluções tecnológicas avançadas foram desenvolvidas para resolver problemas de disponibilidade de recursos hídricos.

Dessa forma, muito dinheiro foi destinado para a região, o suficiente para implantar projetos avançados de irrigação e distribuição de água, porém boa parte da verba foi desviada e a maior parte dos sistemas de irrigação foi destinada a grandes latifúndios (geralmente associados a grandes políticos da região) que priorizam a exportação.

Assim, na opinião de muitos críticos, a indústria da seca funciona da seguinte forma: prometem-se melhorias para a população e oferecem-se ações de caridades (como cestas básicas) em troca de votos. Depois de eleitos, os políticos atuam para atender aos interesses dos grandes latifundiários, que geralmente financiam as suas campanhas.

Por fim, exagera-se na mídia o problema da seca a fim de angariar mais recursos que raramente são bem utilizados em prol da população local. Apesar disso, essa realidade vem lentamente mudando nos últimos anos.

Portanto, para melhor resumir, podemos atribuir a questão da seca do Nordeste a três principais fatores: naturais (de ordem física e climática), históricos (heranças da colonização) e políticos (relacionados à indústria da seca).

Fonte: (Brasil Escola, texto de Rodolfo Alves Pena, Graduado em Geografia)

O POLÍGONO DA SECA

Foi criado esse polígono para delimitar as regiões secas do país, composto por Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais.

Esse termo designa uma região mais concentrada no Nordeste.

A POESIA

A poesia Sertanejo tenta descrever a agonia das famílias que vivem naquelas regiões, e no texto revela uma pesquisa realizada anteriormente, ao falar da nomenclatura das chuvas e os períodos, vamos conhecer, pelo menos para quem ainda não sabe, o que deve ser plantado nestes períodos:

  • CHUVA DE CAJU: podem ocorrer durante os meses setembro, outubro e novembro, nesta época o plantio deve ser de arroz, feijão milho, soja.
  • CHUVA DE SANTA LUZIA – dezembro a fevereiro, favoráveis ao plantio de manga e algodão
  • CHUVA DE SÃO JOSÉ – março, é propício ao plantio de amendoim e mandioca

Fonte: (Blog Jacto)

 

É gritante que a situação dos irmãos do nordeste, em sua grande maioria, no sertão agreste, continuem na mesma condição, nada mudou. Existem países como os já citados que sofrem com o clima e relevo nada propício, entretanto, conquistam resultados satisfatórios no tangente à agricultura, beneficiando o povo.

Costumo dizer, que a poesia tem essa aura de atravessar os tempos e permanecer atualíssima, tenho observado isso com meus próprios escritos, talvez seja por isso, que somos taxados de orates iluminados.

 

SERTANEJO

Por Andrade Jorge

Sertanejo, Sertanejo!

da terra seca fez sua habitação,

a procura do alimento

pra mulher e rebentos,

respirando a poeira do alto sertão.

 

Olha a plantação,

sem arado, sem regado!

 

É a raça, é a luta,

êta vida bruta!

nesse sol que queima o tempo,

seca o chão e mata a fruta.

 

Sertanejo, Sertanejo!

mais um dia sem farinha, nem feijão,

outubro se passou,

e a chuva de Caju não molhou.

 

É a raça, é a luta

êta vida bruta!

no sol que queima o tempo,

seca o chão e mata a fruta.

 

Sertanejo, Sertanejo!

sem arado, sem saber,

o caminho é penoso

na mão do poderoso,

 

olha a plantação que se queima,

e não dá não!

mais um dia sem farinha, nem feijão.

 

………………………………………………… (fala sertanejo!)

 

____ Latifundiário aonde tá ocê?

Dezembro já passou,

cadê a água de Santa Luzia?

Que me alembro não pingou …

O peito aperta, a barriga berra

é a fome, é a fome!

é a fome “seu home”!!

 

___ Latifundiário, aonde tá ocê?

é março já se indo

e as agueira de São José

no meu plantio não fêiz fé!

 

Êta vida bruta do sertão!

o sor queimou meu tempo

secou o chão, matou a fruta.

 

___ Cadê minha plantação?

cadê a minha luta?

cadê o Doutô da promessa

que espero e vem não?

 

O peito aperta

a barriga berra

é a fome, é a fome!

é a fome “seu home”!!

(escrita em 1986)

 

Andrade Jorge, escritor contista, poeta, paulista de Jundiaí, membro da Academia Saltense de Letras (e atual Diretor de Relações Acadêmicas), Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, Academia Internacional de Letras, Ciências e Artes, 1º Secretário do Conselho Municipal de Políticas Culturais de Salto, Membro Honorário da Associação Falanthra de Taranto/Itália, e Embaixador da Paz concedido por Salotto Culturale “Pallazo Recupero” de Martina Franca/Itália.

Contato com o Autor: andradejorge2@bol.com.br

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ANDRADE JORGE
4 anos atrás

Agradeço as leituras e visualizações do texto, publicado com muito carinho neste projeto da ASLe, por sugestão da confreira Rose Ferrari.

Rose Ferrari
4 anos atrás
Responder para  ANDRADE JORGE

O projeto Leituras Inspiradoras é nosso, e seu sucesso se deve ao empenho do grupo de acadêmicos que abraçou a ideia. Fico feliz ao ver a ASLe viva mesmo em meio à pandemia que nos aflige. Foi também uma preciosa oportunidade de conhecer melhor os confrades e confreiras por intermédio de suas sugestões.

Anna Osta
4 anos atrás

Lamentável o sertanejo ainda conviver com a situação da seca – motivo de vergonha para todos nós! Obrigada, Andrade Jorge, por abordar questão tão importante. Que a sua poesia possa inspirar essa causa.

Ezequiel Guerra
4 anos atrás

Parabéns pelo poema!

Marilena Matiuzzi
4 anos atrás

Andrade Jorge, aprecio muito seu olhar sensível aos sentimentos e dores da humanidade.

Obrigada por partilhar conosco suas experiências pessoais e sua poesia.

ANDRADE JORGE
4 anos atrás

agradeço os comentários